Para horas de desassossego

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Flor de Margarida ou Bem-me-quer - Imagem - redes sociais
Flor de Margarida ou Bem-me-quer - Imagem - redes sociais

Quando o seu coração pede uma trégua o que você faz para acalmá-lo? Eu tenho os meus métodos. Se funcionam? Algumas vezes, sim; em outras, falho miseravelmente.

Pensando aqui: o acertar e o errar devem estar relacionados à intensidade da dor. Com o tamanho do estrago. A verdade é que ando exigindo muito desse combalido coração. Ando fraca pra grandes jornadas, pra desafios maiores. E se for sobre ausências, então? Ah, melhor deixar pra lá. Melhor fugir dessa pauta.

Voltando ao ponto de partida, como lancei a pergunta, vamos de sugestões mesmo que ninguém tenha pedido.   Que tal doses diárias de Drummond, de Adélia e de Manoel de Barros? Você não tem ideia de como ando me alimentando desses três. E mesmo sem saber me espelhei em Caio Fernando Abreu. Em um texto que amo especialmente o poeta diz que quando tropeça em absurdos e desassossegos se enche de luz lendo os mesmos poetas que eu.

Não fique aí pensando que sou dada a tristezas.  Pelo contrário, sempre me vi como mensageira das manchetes positivas. Não por acaso meus escritos encontraram abrigo no Boas Novas MG. Evito “enferrujar o sorriso alheio. (…) Faço de mim uma casa de sentimentos bons, onde a má fé não faz morada e a maldade não se cria. Pra isso, me cerco de boas intenções, me reservo pros poucos e melhores amigos. Me permito o riso. Porque, na verdade, o que eu levo aqui dentro é maior que tudo. É maior porque é do bem e vem fresquinho. Eu vivo mesmo é de claridades (…). Paciente, confiante, intuitivo”.

Mas e quando o ambiente fica turvo e tenho dificuldade para enxergar a luz no fim do túnel? Aí Alberto Caireiro entra em cena. Como o poeta lusitano tenho o olhar, como ele mesmo diz, nítido como um girassol. Nas minhas idas e vindas de Conceição pra Beagá me acostumei a olhar para a direita e para a esquerda. 

“E de vez em quando olhando para trás o que vejo a cada momento é aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem…
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras…
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo…
Creio no Mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender…
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos…
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar…
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar…”

É bem por aí. Se o desassossego lhe tortura a alma dedique-se a amar. Não pense. Abstraia. Quanto à mim, vou ali colher um malmequer. Vai que sou sorteada com um bem-me-quer. Melhor arriscar, né?

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