A tarde avançava noite adentro. Ainda tinha muito chão pela frente. Isso sem falar na curva da grota. Ali, volta e meia aparecia uma alma penada. História contada pelo meu pai Nonô e pelo amigo Totonho do Agenor. Muita gente já tinha visto. Quem era eu para duvidar. Deus me livre e guarde de tamanho susto.
Silêncio quebrado apenas pelo piado da passarinhada aninhada no alto do arvoredo que sombreava a estrada. O barulho que vinha da mata fechada anunciava a presença da onça pintada. Mas eu tava protegido. Além de Deus e de Nossa Senhora, um revólver “chimiti” na cintura inspirava confiança.
Rezei dez Pai-Nossos e umas cem Ave-Marias. Até que venci a travessia da grota. Mais um pouco e já dava pra ver a torre da Matriz. As primeiras luzes anunciavam que Pitangui estava bem perto. Segurando a ansiedade. Era só mais uma pernada e, finalmente, já seria a hora de comemorar com uma boa dose de cachaça. E, quem sabe, até umas cervejas. Só de pensar a boca minava água que nem um ribeirão.
Estava bem trajado. Sabia que ia impressionar as senhoritas. Capa Ideal Três Coqueiros, chapéu Prada e sapato Fox cromado preto. O solado fino era pra ajudar na dança. E num é que impressionei mesmo? Cada moça bonita que só vendo.
Tudo corria melhor que a encomenda. Até que … Uai, que barulhão foi esse? A porta foi escancarada. Parecia até lufada de vento. Barulho de cadeira virando, gente correndo pra todo lado, moça chorando pra todo canto. A peãozada mostrou-se pronta pra defender o lugar. A música parou. Silêncio total até que o Geraldo do Isaias deu o ar da graça. Sabe-se lá porque motivo ele não arreou o animal do lado de fora. Entrou salão adentro montado sobre a sela da Camélia, uma belezura de mula que tinha sido minha e que vendi muito a contragosto pra ele.
Passado o susto e a surpresa, conta feita, prejuízo pago, a música voltou a tocar na vitrola, com muito rodopio pelo salão e porque não com mais uma rodada de bebida paga pelo Geraldo. Afinal, era preciso comemorar o feito, assunto que por muitos anos foi contado em roda de matuto nessas bandas de cá.
Como agora. Papai é um exímio contador de causos. Hoje, na mesa de café, ele voltou a nos brindar com mais esse relato. Há vários outros. Conto em outra hora. Deu vontade de tomar um cafezinho. Indo.
Adoro esse causo. Papai sempre nos brinda com essas histórias. Tempos bons aqueles.
O “Velho” Osvaldo é mesmo um ótimo contador de causos. Sempre nos brinda com preciosidades.
Uau, me imaginei atravessando essa grota… que medo!!! lá pelas bandas de Oliveira também temos desses causos…😁😁
Que privilégio ter um pai como o Sr. Osvaldo!!!🙏🙏❤️
Lucianara, meu pai é mesmo uma benção de Deus. Obrigada por ler meus escritos.