Entre um cafezinho e outro

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Dança de salão - Imagem - redes sociais
Dança de salão - Imagem - redes sociais

A tarde avançava noite adentro. Ainda tinha muito chão pela frente. Isso sem falar na curva da grota. Ali, volta e meia aparecia uma alma penada. História contada pelo meu pai Nonô e pelo amigo Totonho do Agenor. Muita gente já tinha visto. Quem era eu para duvidar. Deus me livre e guarde de tamanho susto.

Silêncio quebrado apenas pelo piado da passarinhada aninhada no alto do arvoredo que sombreava a estrada. O barulho que vinha da mata fechada anunciava a presença da onça pintada. Mas eu tava protegido. Além de Deus e de Nossa Senhora, um revólver “chimiti” na cintura inspirava confiança.

Rezei dez Pai-Nossos e umas cem Ave-Marias. Até que venci a travessia da grota. Mais um pouco e já dava pra ver a torre da Matriz. As primeiras luzes anunciavam que Pitangui estava bem perto. Segurando a ansiedade. Era só mais uma pernada e, finalmente, já seria a hora de comemorar com uma boa dose de cachaça. E, quem sabe, até umas cervejas. Só de pensar a boca minava água que nem um ribeirão.

Estava bem trajado. Sabia que ia impressionar as senhoritas. Capa Ideal Três Coqueiros, chapéu Prada e sapato Fox cromado preto. O solado fino era pra ajudar na dança. E num é que impressionei mesmo? Cada moça bonita que só vendo.

Tudo corria melhor que a encomenda. Até que … Uai, que barulhão foi esse? A porta foi escancarada. Parecia até lufada de vento.  Barulho de cadeira virando, gente correndo pra todo lado, moça chorando pra todo canto. A peãozada mostrou-se pronta pra defender o lugar.  A música parou. Silêncio total até que o Geraldo do Isaias deu o ar da graça. Sabe-se lá porque motivo ele não arreou o animal do lado de fora. Entrou salão adentro montado sobre a sela da Camélia, uma belezura de mula que tinha sido minha e que vendi muito a contragosto pra ele.

Passado o susto e a surpresa, conta feita, prejuízo pago, a música voltou a tocar na vitrola, com muito rodopio pelo salão e porque não com mais uma rodada de bebida paga pelo Geraldo. Afinal, era preciso comemorar o feito, assunto que por muitos anos foi contado em roda de matuto nessas bandas de cá.

Como agora. Papai é um exímio contador de causos. Hoje, na mesa de café, ele voltou a nos brindar com mais esse relato. Há vários outros. Conto em outra hora. Deu vontade de tomar um cafezinho. Indo.

4 COMMENTS

  1. Uau, me imaginei atravessando essa grota… que medo!!! lá pelas bandas de Oliveira também temos desses causos…😁😁
    Que privilégio ter um pai como o Sr. Osvaldo!!!🙏🙏❤️

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