Produzido exclusivamente a partir de fontes renováveis, o hidrogênio verde fotovoltaico desponta como uma promissora alternativa à gasolina. É o que aponta o engenheiro eletricista Francisco Edvan Bezerra Feitosa, doutor em Ciências e Técnicas Nucleares pela UFMG e professor do Instituto Federal Fluminense.
Em sua tese de doutorado, Feitosa propôs o projeto de uma usina de hidrogênio com capacidade de gerar 1 megawatt elétrico (1 MWe), usando exclusivamente energia solar. A título de exemplo, 1 MWe pode abastecer cerca de 1.000 a 2.000 casas simultaneamente, dependendo do consumo médio por residência (que varia entre 500 e 1.000 watts contínuos por casa, em média no Brasil).
Ou, usando 1 MWe em um eletrolisador com eficiência de cerca de 70%, é possível produzir aproximadamente 20 kg de hidrogênio por hora. Com 1 kg de hidrogênio, um carro movido pode rodar cerca de 100 km. Ou seja, 1 MWe pode gerar hidrogênio suficiente para abastecer até 20 carros por hora.
A planta pensada pelo professor Francisco foi simulada para operar nas proximidades da Refinaria Gabriel Passos, da Petrobras, em Betim (MG), na região metropolitana de Belo Horizonte.
Segundo o pesquisador, o hidrogênio produzido localmente poderia ser aproveitado para enriquecer os combustíveis convencionais na própria refinaria. Atualmente, o hidrogênio já é utilizado nesse tipo de processo no Brasil.
A geração do hidrogênio verde ocorre por eletrólise, técnica que separa o hidrogênio do oxigênio presente na água. “Com uma voltagem de 1,229 volts, o processo se inicia. Acima de 1,48 volts, a produção já é eficiente. Quanto maior a tensão, maior a quantidade de hidrogênio gerada”, explica Feitosa. Por ser leve, o hidrogênio se desprende e pode ser armazenado.
Nordeste se destaca pela energia solar abundante
Feitosa também avaliou o potencial de produção de hidrogênio em 23 cidades ao longo da BR-116, a mais extensa rodovia do país, com 4,6 mil km. A análise revelou que o Brasil, especialmente o Nordeste, possui excelentes condições climáticas para a geração de energia fotovoltaica — fator essencial para o avanço do hidrogênio verde.
A incidência solar intensa e regular torna a região nordestina ideal para a instalação de usinas solares voltadas à eletrólise. As tecnologias necessárias já estão disponíveis no mercado, como os eletrolisadores e os painéis solares, o que acelera a viabilidade do projeto.
De acordo com Feitosa, a expectativa é que os custos dessas tecnologias caiam progressivamente. “O objetivo é que o hidrogênio passe a ser produzido a um custo competitivo, em torno de um dólar por quilo, valor similar ao da gasolina atualmente”, afirma.
Com potencial para revolucionar o setor automotivo e reduzir a emissão de gases de efeito estufa, o hidrogênio verde caminha para se tornar uma peça-chave na transição energética brasileira. Seu uso, aliado à energia solar, reforça o compromisso com um futuro mais sustentável e independente de combustíveis fósseis.
Com informações da UFMG