Vamos fazer uma … reflexão?

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Imagem - Pixabay
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Certamente você já percebeu que tudo nessa vida acaba em modinha. É um eterno repetir-se. E nas redes sociais, então? Basta um ou uma influencer ter um insight (ops!) para postar. Se for criativo, daí para viralizar é um pulo. Na sequência virá uma sucessão de cópias. Quer um exemplo? O “vamos fazer uma …”. Esse já deu. Chega num ponto que cansa. A cópia muitas vezes ou, na maioria das vezes, é sempre (muito) pior que o original. Lembrando que nesse exemplo que citei o autor do bordão, o fofo do @arthurpaek, é insuperável. Sou fã. Siga. Recomendo.
Pensando aqui com meus botões que esse meu cansaço do papel de “voyer do cotidiano” pode ser coisa da idade. Afinal, não nasci ontem, né? E, por falar nisso, vou contar um segredinho: Tô precisando de terapia. É que vivo um conflito diário.
– Nooossa, Gisele! Ouvindo BTS? Como é que você pode gostar de K-Pop? Você já não tem mais idade pra isso mais, não!
Será? Tá aí um prato cheio pra terapia. O problema, se é que ele existe, é que a minha alma jovem não combina em nada com meu corpo envelhecido. Enquanto a alma está plena, o pobre do corpinho anda precisando de uma boa lanternagem. No estado em que está um martelinho de ouro seria muito vindo. Apesar disso, não sinto a idade que tenho. A exceção fica para quando encontro alguém da minha geração. Aí fico em choque.
– Meu Deus, não foi só esse querido que envelheceu. Eu, também. Devo estar assim também. Como não percebi?
E olha que não é por falta de sinais. Estão na cara. Literalmente. São tão evidentes que recentemente um colega, valendo-se de uma experiência pessoal, sutilmente me deu uma dica valiosa. Contou que uma esteticista peruana recomendou a ele o uso de um creme. Além de rejuvenescer a pele do rosto, o tal creme eliminaria rugas e manchas. Entre cético e animado, o amigo em questão passou a usar o milagroso e fez-se o milagre. Não duvidei, porque o moço está com tudo em cima. Não aparenta os mais de 40 que carrega nos ombros.
– Gisele, o preço do creme é bem em conta. Além disso, você encontra o Cicatricure em qualquer farmácia. Use duas vezes ao dia. Você vai se surpreender, recomendou o amigo cheio de certeza.
Na dúvida, comprei e estou usando. A pele realmente está mais viçosa. Não espero nenhum milagre, mas quem sabe, né?
Ah, e essa coisa de só se ver como é de fato na imagem dos outros? Já aconteceu com você? Até há pouco tempo pensava que era coisa da minha cabeça. Que nada! Recentemente me surpreendi ao ler um post de um jornalista da minha geração. Ele confessa que passou a sofrer um pouco mais (a gente sofre com isso, viu?) ao rever o filme “007 e o Homem da Pistola de Ouro”.
Se você nunca assistiu e gosta de ação, recomendo muito. Mas voltando ao ponto, nesse filme a bond-girl vivida pela atriz sueca Britt Ekland estava no auge da sua beleza. Tinha só 22 anos. Hoje, ao 82, não lembra em nada a musa que um dia foi o objeto do desejo não só dos adolescentes, mas como e, principalmente, dos chamados machos alfa dos anos da década de 1970. Diz o jornalista que os sinais da decadência evidenciados no corpo da atriz acionaram nele o gatilho da consciência da chamada finitude da existência.
E num é que é mesmo? Como a vida flui rápido, meu Deus!
Diz o Manoel de Barros que “o tempo só anda de ida. A gente nasce, cresce, envelhece e morre. Pra não morrer, é só amarrar o tempo no poste”. Essa é, para ele, a ciência da poesia.
Se o Cicatricure não der jeito, talvez esse seja mesmo o caminho. Se não podemos domar o ciclo da vida, a “ciência da poesia” pode ser uma forma de resistência a essa inevitabilidade. Vou me permitir, como diz o escritor “amarrar o tempo no poste”. Talvez assim seja possível capturar momentos efêmeros, preservá-los e, de certa forma, vencer a marcha implacável do tempo. Um meio de eternizar experiências, emoções e instantes, desafiando a transitoriedade da vida.
Carlos Drummond de Andrade traduziu bem esse correr e a finitude da vida: “Os ombros suportam o mundo. Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Tempo de absoluta depuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor. Porque o amor resultou inútil. E os olhos não choram. E as mãos tecem apenas o rude trabalho. E o coração está seco. Em vão mulheres batem à porta, não abrirás. Ficaste sozinho, a luz apagou-se, mas na sombra teus olhos resplandecem enormes. És todo certeza e já não sabes sofrer. E nada esperas de teus amigos. Pouco importa venha a velhice, que é a velhice? Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança. As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e nem todos se libertaram ainda. Alguns, achando bárbaro o espetáculo prefeririam (os delicados) morrer. Chegou um tempo em que não adianta morrer. Chegou um tempo que a vida é uma ordem.”
Drummond, como sempre, magistral. Nesse poema, o poeta de Itabira vai pela via contrária a de Manoel de Barros. Drummond prefere a resignação e a aceitação da vida como ela é: despida de ilusões românticas ou divinas, abraçada com uma firmeza pragmática que lhe permite suportar o peso do mundo.
Entre a poesia e o pragmatismo, a rotina se impõe rotina. Está na hora de passar o Cicatricure no rosto, no pescoço e no colo. A embalagem diz que o produto reduz rugas profundas e reafirma a pele. Diz ainda que os resultados aparecem após a primeira aplicação. Depois de uma semana de uso, continuo confiante.
Fica a dica. Lembrando que nessa prosa de hoje me superei. Além do creme antienvelhecimento, indiquei um blogueiro, o @arthurpaek, e um filme dos anos 1970. Epa! Olha a alma e o corpo se “amostrando”.
Indo. Até mais ver.

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