Nos anos 1970, quando os recursos e a mão de obra eram escassos, um prefeito de uma pequena cidade perdida nos grotões das Minas Geras decidiu construir uma estrada. Assim eliminaria a travessia por balsa. Acreditava que aquela obra mudaria a vida dos moradores das comunidades rurais.
Se o Rio Pará estava cheio, ir para o outro lado era um sofrimento. E se era tempo de seca a dificuldade diminuía, mas os problemas não tinham fim. A balsa vivia quebrada. O prefeito sabia que a necessidade não podia ser refém da natureza. Era preciso agir.
Uma frase de Mahatma Gandhi – “A cidadania é a mais profunda forma de amor ao próximo. Defender o que é certo requer coragem, mesmo quando os outros duvidam de nós” – cai como uma luva na história de um prefeito desconhecido. A sua ousadia combinada com a sua coragem desafiou a realidade de cofres praticamente vazios e a desconfiança dos moradores. Incansável, foi à capital em busca de orientação profissional e de verba. Voltou de lá sem um centavo. Só trouxe consigo um agrimensor. Aquele moço, talvez tão sonhador e ousado como o prefeito, decidiu apostar naquele projeto que tinha tudo pra dar errado.
A obra começou a duras penas. Naquela época das vacas magras, para mover a terra e abrir a estrada só havia um trator. Mas nada que desanimasse ou intimidasse o prefeito. O agrimensor mediu, fez cálculos e orientou aquele que era um misto de prefeito, mestre de obras e faz tudo. Poucos dias depois a realidade trouxe o agrimensor de volta à capital. A contragosto, deixou para trás o sonho e o sonhador. Mas nem tudo estava perdido. Aquele prefeito, mais uma vez movido pela coragem, pela determinação e pela ousadia, combustíveis que alimentam os idealistas, colocou em prática o conhecimento que adquiriu apenas observando o trabalho do agrimensor.
Algum tempo depois, pasmem, a estrada ficou pronta e a barca virou memória. Hoje, poucas pessoas da nova geração conhecem essa história. Transitam pela estrada sem que se sintam parte dela. Apenas veem e vão. Reclamam dos buracos, comentam sobre o excesso de poeira e comemoram o trecho asfaltado recentemente. Os que ainda não se beneficiaram da novidade sonham que o asfalto se estenda até a sede do município. Com certeza, o asfalto virá. Afinal, hoje, além de recursos, os gestores públicos contam com maquinário moderno e com mão de obra especializada. Então a melhoria é só uma questão de tempo.
Mas tudo tem paternidade, né mesmo? Que lugar é esse? Que estrada é essa? Que prefeito visionário foi esse? Pois, então! Essa conquista é só uma das muitas que tornaram Conceição do Pará o que é hoje. Se temos uma praça que traz identidade à cidade, se temos uma estrada que liga a sede ao Velho do Taipa, se temos outras infinitas melhorias, tudo isso é fruto da coragem e da ousadia do meu pai, o prefeito Osvaldo Resende.
Você deve estar aí se perguntando porque estou contando esse fato. Conto e registro porque só quem conhece o passado, pode valorizar o presente e visualizar o futuro. E sempre é tempo de resgatar a história de quem só conhece esse nosso querido de quando, já vivendo o seu outono, passava parte do dia vendo a vida passar da varanda de casa.
– Bom dia, Seu Osvaldo! Será que vem chuva por aí? O calor tá demais.
– Bom dia! Parece que ainda vai demorar. O gado e a passarinhada estão bem quietos.
Essa troca de cumprimento e de sabedoria, continuava ao longo do dia até que a noite chegasse e ele se recolhesse. Mas o outro Osvaldo, o empreendedor, o gestor ousado e criativo, só os mais velhos conheceram e os que sobreviveram a ele reverenciam.
Osvaldo, o nosso Velho Osvaldo, nasceu numa madrugada fria, em 18 de julho de 1930. Desde cedo, ajudava na fazenda. Aos 17 anos começou a trabalhar como motorista de caminhão. Transportava creme de leite para a fábrica de manteiga do pai. Mais tarde, tornou-se sócio de um tio e levava cimento para alimentar as obras de construção de Brasília.
Quando se mudou para Nova Serrana comprou um bar. E, aos 23 anos, casou-se com a professora Nely, mudando-se de vez para Conceição do Pará. Foi nessa cidade que Osvaldo e Nely constituíram e criaram a nossa família. Foi aqui também que ele abriu vários negócios, entre eles, a Padaria Resende, uma serraria e uma mercearia, todos com o mesmo nome. Criou ainda a Minas Grama. Essa empresa, por muito tempo, foi responsável por gerar emprego e renda para os moradores da cidade.
Osvaldo também se dedicou ao serviço público. Primeiro como servidor municipal, depois como prefeito. Como voluntário contribuiu com seu conhecimento e experiências para as obras da Paróquia Sagrado Coração de Jesus. No Santuário da Imaculada Conceição, construiu a Capela das Velas com os recursos doados por um devoto.
A militância política começou em 1963. Anos depois, participou da fundação do MDB de Conceição do Pará. Presidiu o partido por muitos anos. No outono da vida ainda mantinha intensa atividade política e foi eleito pelos pares presidente honorário do partido que ajudou a criar e que hoje é o PMDB.
Nesse setembro, um mês especialmente difícil para nós, ganhamos um motivo para comemorar e agradecer? Papai agora é nome de estrada. Não de uma estrada qualquer, mas da via que ele edificou praticamente com as próprias mãos. Que venha o asfalto e que seu nome se perpetue e inspire novos sonhadores.
Antes de ir, uma dica: nunca deixe de sonhar. Diante das adversidades, mantenha a esperança.
Obrigada pela indicação e pela aprovação. Ao Executivo e ao Legislativo, o nosso muito obrigado!
Merecida homenagem. 👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼
Obrigada, amada!
Quanto orgulho desse paizão! Homenagem mais que merecida!
Obrigada, amada! Na falta da documentação histórica, valendo-me da oralidade para perpetuar os feitos do meu pai. Homem honrado, um gestor a frente do seu tempo. Beijo pro cê.