O lado picante da história do café

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Imagem - Pixabay
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Um dos princípios do bom jornalismo é ouvir os dois lados da mesma história. Algo básico no exercício ético da profissão. Em outras palavras, tudo tem um lado B. E eu, como jornalista e “cafezíferaaaa” (olha o @bomtalvão, ai gente!), tenho que contar para vocês o que descobri sobre como o café chegou no Brasil. Preparem o espírito. Nessa pauta vai rolar até história de amor e de traição.

Mas, antes, vamos aos fatos. O café é a bebida mais consumida no mundo. Veio das terras altas da Etiópia, possivelmente de culturas no Sudão e do Quênia. Uma lenda conta que um pastor etíope percebeu que suas ovelhas ficavam alteradas após comerem as folhas de uma planta que crescia por ali. Fascinado, levou uma amostra para um monge. Inicialmente, o religioso não aprovou a novidade e chamou a planta de “o trabalho do diabo”. No entanto, quando os grãos foram torrados, os monges sentiram o aroma e decidiram experimentar. Pronto. Estava descoberto o café. Para a minha e para a nossa alegria e satisfação.

Da África, o café se difundiu para a Arábia. Por lá foi cultivado e usado para, supostamente, curar diversos males. Os livros de história contam que só em 1727 o café chegou ao Brasil. Foi trazido pelo militar Francisco de Melo Palheta, marcando o início do Ciclo do Café e a expansão das lavouras cafeeiras no período do Brasil Império. Nos anos seguintes, o café foi levado para várias regiões do país, entre elas, a nossa Minas Gerais, tornando-se a maior fonte de riqueza e o principal produto de exportação. A abolição gradual da escravatura e a proibição do tráfico de escravos no Brasil causaram falta de mão de obra para a cafeicultura, levando os fazendeiros a utilizar imigrantes europeus como trabalhadores nas plantações. O resto da história você conhece de cor e salteado.

“Cafézífera” de carteirinha, a história do grão tem chamado a minha atenção e não é de hoje. Em um dos Natais dos tempos da delicadeza ganhei um jogo de perguntas e respostas. Uma delas era exatamente sobre quem trouxe o café para o Brasil. Fiquei sabendo então que foi o Chico Palheta. Memorizei a informação e por muito tempo surpreendi adultos e crianças com o meu “conhecimento” sobre algo tão aleatório. Mamãe, professora de História, foi uma das minhas muitas vítimas.

– Mamãe, a senhora sabe quem trouxe o café para o Brasil?

Entre envergonhada (afinal, como professora, como ela não tinha essa informação na sua prodigiosa memória ram) e curiosa, respondeu:

– Não, minha filha, eu não sei. Vamos pesquisar na Barsa.

– Não precisa, Mamãe. Eu já sei a resposta. Foi o Francisco Melo Palheta.

– Uai, Gisele, de onde você tirou essa informação? Vamos confirmar, disse ela, saindo apressada em direção à Barsa, que nos olhava da estante.

Para o meu orgulho e satisfação, a informação foi confirmada. Não se falou mais nisso e a vida seguiu em frente. E entre uma brincadeira e outra, fazendo juz à minha fama de sabichona |(?), lá estava eu repetindo a mesma pergunta. Fazia outras também, tipo, você sabe qual foi o primeiro homem (sempre ele) a pisar na lua? E uma infinidade de outras aleatoriedades.

– Que menina chata, metida a besta! Pensa que sabe tudo.

Mas, vamos lá. Para saciar a sua curiosidade sobre o babado que envolve o lado B da história do café, fiquei sabendo pela Denise Godinho que o grão entrou no Brasil de um jeito meio “estranho”. No ano da graça de 1727 o oficial português Francisco de Mello Palheta, vindo da Guiana Francesa, realmente trouxe as primeiras mudas de café. Até então, nada de diferente. Dá até pra imaginar o tal oficial recolhendo umas mudinhas, colocando na mala e coisa e tal. A verdade é que essa não foi exatamente uma missão oficial. Na verdade, as mudas foram contrabandeadas. E mais, essa operação ainda tem uma história de amor e traição no meio. É que o danadinho do Chico seduziu a Madame D’Orvillers, esposa do governador de Caiena. Completamente apaixonada, entre lágrimas, ela lhe disse na despedida:

– “Oh, meu amor! Peça o que quiseres que eu lhe darei”.

Muito safado e malicioso, “Chico” respondeu:

– “Bem, eu aceitaria de bom grado sementes e mudas de café…”

Sim, o café chegou ao Brasil, entrando pelo estado do Pará, como presente da amante e sem aval oficial (nem poderia, né?). E se não fosse pela Denise Godinho (@capituvemparaojantar), eu morreria sem saber o lado picante da origem das plantações de café no Brasil.

Fofoca histórica feita, hora de ir. Mas antes, um recadinho do coração para você não se deixar enganar: nem sempre o café que a gente toma é café de verdade. Tem gente que se deixa seduzir pelo café “extraforte”, que nada mais é do que folhas, galhos e afins, todos queimados. Do grão mesmo não tem quase nada. Café bom tem a ver com a origem e com a torra, essa uma verdadeira alquimia, que transforma o grão verde em uma sinfonia de sabores. A torra clara traz um sabor mais ácido, enquanto a média, equilibra a acidez, realça o sabor original do grão, enquanto a escura resulta em uma bebida mais encorpada, com notas mais amargas e menos acidez. Ah, fique ligado também na moagem do grão, na data da torra e na certificação, né mesmo, Adelson Viegas? Mas tudo isso já é uma prosa pra outra hora. Vou ali tomar um cafezinho porque cheirou aqui.

Até mais!

2 COMMENTS

  1. Quantas informações!!! Não tinha conhecimento de nenhuma, adorei, pois café é minha bebida preferida, ainda mais se vier acompanhada por um pao de queijo!

  2. Pois é, eu que dou bom dia para muitos dos meus contatos sempre com figurinhas ou fotos de café, nunca foram com informações. Agora vai um bom dia junto com o seu texto. Bjs

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