O “influencer” de Deus

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Imagem - Pixabay
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A primogênita daqui de casa é bem calma. Raramente se estressa. Obviamente não é uma
regra. Um dia desses ela perdeu as estribeiras? Chateada, sem meias palavras expôs toda a sua
revolta, todo o seu descontentamento:

  • Gisele, você acredita que o Papa Francisco não incluiu o nosso Padre Libério na lista dos
    novos santos? Até o beato Carlos Acutis, aquele que é bem novinho, entrou. O nosso santo
    ficou de fora. Não me conformo.
  • Uai! É mesmo? Que coisa, heim?

Confesso que eu também me surpreendi. Assim como a minha irmã, todos os que têm fé em Padre Libério davam como certa a sua santificação. Afinal, esse beato só semeou o amor por onde passou. E não são poucos os milagres atribuídos a ele. O que deu errado, então?

Para apaziguar o coração da minha irmã fiz um longo discurso sobre questões mercadológicas. Disse que como Carlos Acutis é um millenial, a escolha talvez tenha se dado pela necessidade de a Igreja Católica se reaproximar da juventude, de atrair as novas gerações para o catolicismo etc e tal. Que vai chegar a hora do nosso Padre Libério. Discursei por vários minutos. Mas duvido que meu esforço tenha valido a pena. O certo é que a nossa primogênita não se deixou convencer e volta e meia comenta sobre a injustiça com o nosso beato.

Só pra refrescar a sua memória (se é que você ainda não sabe) São Carlos Acutis faleceu vítima de leucemia aos 15 anos. Adorava comunicação, informática e redes sociais. Tudo isso o coloca em sintonia com uma geração de católicos que se afastou do sentido da santificação. E mesmo antes da beatificação, o mais novo santo da Igreja Católica já era conhecido pelos milhares de devotos. Ele tinha milhares de seguidores nas redes sociais.

Todos o chamavam de “o influenciador de Deus” ou “padroeiro da Internet”. Seu corpo, exposto para veneração dos fieis em Assis (Itália), está vestido com calças jeans, tênis Nike e camisa esportiva, não por acaso, símbolos de uma nova geração de santos. Fé e marketing à parte, mas afinal o que é ser santo? Padre Libério é mais santo que o Santo Carlos Acutis? Ou é o contrário? Nem uma coisa nem outra. O título de santo vale tanto para os dois, quanto para você, para mim, para o seu vizinho ou para aquele seu conhecido. Fico daqui imaginando a sua cara de espanto.

Que maluca essa tal de Gisele! Santo! Logo eu, cara pálida? Como posso ser santo se nem tenho coragem para confessar a minha meia dúzia de pecados ao padre. Vivo fugindo da tal da confissão.

Calma! Já esclareço. Há alguns anos, Padre Adriano, até então nosso pároco, abriu um clarão na minha cabeça. Naquele momento fez-se a luz! Finalmente compreendi. Os santos e santas são uma ponte para o divino. E se estão ao lado do Pai é por merecimento. “Santo” vem do hebraico. Significa “separado”. Daí se conclui que a santidade não é prerrogativa só de alguns: é um dom oferecido a todos, sem excluir ninguém. Todos podemos ser santos. Para isso, basta que nos espelhemos em Deus, à sua imagem e semelhança. Praticando o bem, vivendo em paz, amando o próximo. Tudo isso, traduzido em pequenos atos, nos “separa”, nos reveste de santidade e nos torna próximos ao Criador.

“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força. Amarás o teu próximo como a ti mesmo!” Não existe outro mandamento maior do que esse.” A novidade está no uso do verbo “amar”.

Voltando ao que nos levou até aqui, o que se conclui é que tanto o Padre Libério quanto Carlos Acutis são santos por merecimento. O primeiro, pelo que praticou em sua longa existência; o outro, da mesma forma, em sua curta trajetória terrena, de onde se conclui que o título outorgado pelo Vaticano ao influencer de Deus é mera burocracia. Quem teve a honra da convivência ou viveu a graça do milagre sabe que ambos já estão santificados.

No frigir dos ovos, o que tem de melhor nessa história é que a cada dia nesse jogo da vida quem ganha somos nós. O time de Deus, para o qual torcemos, só se fortalece. Lá nos prados celestes o que tem de craque não tá no gibi (0ps! Baixou o Cafunga aqui.). O time feminino está escalado com Maria, Rita, Conceição, Maria das Graças, Luzia, Auxiliadora, Marta … e mais uma infinidade de mulheres santificadas que hoje estreitam o nosso link com o sagrado.

O time masculino também não fica atrás. Só tem craque. Basta lembrar da escalação: João, Antônio, José, Expedito, Paulo … e mais recentemente o Carlos. Quanto ao Libério, esse craque ainda está no banco. Mas, acredite, fiquei sabendo que o técnico já tá de olho nele. Aguardem a próxima escalação. Nesse jogo vai ter gol de placa. Esperem pra ver. É só ter fé. E por falar nisso, fé por aqui é mato.
Até a próxima. Fiquem bem!

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