Aproveite o Natal e seja feliz

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Imagem - Pixabay
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Nossa família gosta de se reunir. Sempre foi assim. Mas esse Natal não será como os outros. Estamos mais pobres de afeto. As ausências, por serem permanentes, são mais dolorosas. Não tem a desculpa de “esse ano não deu; quem sabe no ano que vem? Pode ser que no próximo ano todo mundo vai estar junto e misturado?”. Se tem sido difícil, nessa época do ano a dor só aumenta. E dá-lhe conflito. O que fazer se o celular avisa que me excedi e que a memória tá cheia? Quem disse que eu consigo deletar alguma foto ou vídeo? Se depender do meu coração tudo vai continuar ali. Indefinidamente.
E os números de telefone? Melhor não mexer na agenda. Há um texto do Carpinejar que gosto especialmente porque traduz direitinho o que vai pela minha alma. “Às vezes, esbarro em um deles e choro, e daí faço um telefonema espiritual entre a oração e a lembrança. Não sei se rezo ou lembro, as duas operações estão misturadas. Engulo as lágrimas como se fossem palavras inéditas entre nós”.
Não sou diferente do escritor nesse quesito. Tenho dificuldade em descartar os números daqueles que se tornaram memória. Continuam lá, intocados. É assim também com as mensagens de whatsapp. Como diz o Carpinejar, “não há como apagar quem permanece vivo em mim. Mesmo que seja uma recomendação terapêutica para aceitar o luto”.

Assim como ele, “conservo os dígitos como uma fotografia numérica de todas as conversas que tivemos, de todas as confissões sussurradas ao pé do ouvido, de todas as andanças por dentro da memória. Ainda preciso de conselhos, ainda preciso de incentivos – a morte é um detalhe para quem tem em mente o conjunto de uma vida. Pai e mãe são corredores que unem a sala de estar ao quarto da infância. São ligações internas, interurbanos da alma. Sem o corredor, a casa não conversa e você não se escuta mais”.
Nessa estação do lado de cá ando engolindo o choro. Brinco entre o riso e o pranto que, depois de tudo o que passamos, talvez a saída seja mudar de banda. É que de tão lotado de queridos o lado deve ser pura festa. Tá bom! Eu sei. Ainda não é a hora. Só Deus para indicar o momento de fazer a viagem.
Assim, no dia a dia, a gente vai fazendo o que pode, o que dá conta. Vida que segue. Até compramos uma árvore nova. Maior e mais bonita. E não é só ela. Há referências do Natal por todo lado. Quanto aos presentes, vamos de amigo oculto para os adultos e de mimos para as crianças.
Quanto à ceia, há divergências. Uma ala da família não quer mudar nada. Deseja tudo igualzinho. Entendo e fico dividida também. Manter como está talvez traga os nossos que se foram para mais perto da gente. Pode até ser, né? Mas há aqueles que desejam alterar tudo, da ceia aos presentes. Que tal uma mesa de queijos, frutas e castanhas? Mas e o pernil com farofa, o arroz de forno e o tutu de feijão? Tudo tão tradicional. Tão imemorial. Foi assim desde sempre.

Para quem cozinha, no caso, nós, é sempre prazeroso pensar no que essa comida vai trazer de bom para a pessoa. Não se trata apenas de alimento. É mais que isso. No preparo vai intenção, carinho, afeto e o desejo de compartilhar bons sentimentos. Após a refeição, todos saciados pelo pão e pelas doses de amor – somos exagerados -, não há recompensa maior que ouvir um “humm, credo que delícia!”, um “muito obrigado”. A propósito, sem consenso, vamos fazer um pouco de tudo para a ceia.
Há os que dizem que “se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia”. Mesmo assim, vou me atrever. Reúna a família. Festeje o Natal. Reze e agradeça por estarem todos juntos. Prepare uma refeição temperada com muito amor, afeto e tolerância. Para isso, não há preço. Acredite. Desejo que o seu Natal seja o mais lindo de todos e um prenúncio de que o novo ano chegue sinalizando para um tempo de boas novas. Aproveite a data e seja feliz.

4 COMMENTS

  1. Concordo plenamente com Carpinejar “não há como apagar quem permanece vivo em mim”
    E olha que eu tenho os meusdriblar de sangue e as famílias que a vida me presenteou E vivem em mim, portanto eu já sei que o negócio é driblar a emoção e celebrar.Porque “eles”estarão sempre vivos celebrando junto!

  2. Gisele, você tem uma família linda!!!Sempre soube disso! Mesmo na ausência de tantos queridos vocês permanecem unidos. ❤️

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