Do divã direto para a cozinha

Numa rua próxima à “firma” há duas lojas de cosméticos. Uma ao lado da outra. São concorrentes. Uma é caótica. Todos os itens ficam amontoados. A iluminação é precária. Os corredores estreitos estão sempre superlotados de produtos. Na outra, pelo contrário, impera a ordem. Tudo em seu devido lugar. A iluminação é perfeita. O atendimento também. Não vou revelar os nomes porque não sou de fazer “publi”. Deixo essa tarefa para os influencers de plantão.
Mas não vou negar que as visualizações mexem comigo. Então, que tal uma caixinha de perguntas? Vale um creme facial de última geração para quem responder corretamente de qual dessas lojas eu sou cliente. Hiii! Pensando bem, melhor não. A resposta é óbvia demais e o creme caríssimo. Melhor não comprometer o meu orçamento antes que você se precipite e responda que sou figurinha carimbada da loja caótica.
Que saber? É isso mesmo. Eu me identifico com o local. Tem tudo a ver com a minha (des) organização mental. Posso até tentar mascarar a realidade e dizer que essa escolha tem a ver com o meu caos interno, que tudo isso é sequela daquela Covid que me pegou de jeito no ano passado. Mas, para que tampar o sol com a peneira, né? Eu sempre fui assim. Não é de hoje que mistura alhos com bugalhos. A ansiedade é companheira constante. Tento fazer um monte de coisas ao mesmo tempo. E como postergar é meu sobrenome, sempre deixo muita coisa para depois. Meu caminho anda entulhado tal e qual a loja de cosméticos.
E os planos? Ah, crio vários. Cada um mais mirabolante que o outro. Minha mente criativa é capaz de imaginar coisas que até Deus duvida. Chego a colocar em planilhas, avaliar custos, prever riscos e a pensar em parcerias. Daí a sonhar que esse tal projeto pode ser a minha redenção não demora quase nada. Nessa fase já começo a me imaginar em cenários paradisíacos, em momentos de puro ócio criativo. Afinal, reflito risonha e toda entusiasmada, com essa nova ideia tenho tudo para me tornar uma empreendedora de sucesso. Como é que eu não pensei nisso antes? Aí vem a fase dois. Aquela de “será mesmo?” E “se não der certo?”. Estaca zero. Até que começo a sonhar de novo.
Epaaa! Só agora é que me dei conta de que esse minifúndio não é divã e que você não está aqui para me psicanalisar. Melhor mudar o rumo da prosa e parar de me “amostrar”. Afinal, um pouco de mistério é sempre bem-vindo, né mesmo. Vai que, né?
Que tal sair do consultório, voltar para casa e ir direto para a cozinha que é o meu lugar de repouso mental?
Pronto. Cá estou eu de volta ao mundo real. Hora de focar na ceia de Natal. Uma ala da família quer manter a tradição. Insiste no arroz de forno, pernil, farofa, tutu de feijão e uma salada verde que entra mais para enfeitar a mesa que propriamente para ser comida. Outra ala deseja inovar. Sugere uma mesa com pães, queijos, castanhas e frutas. Por enquanto o único consenso é a sobremesa. Da mousse de vinho ninguém abre mão.
Ah, sobre o caos mental, sobre a desorganização e coisa e tal? Melhor abstrair. Saindo para pesquisar os preços e adequar a ceia ao orçamento, que como a minha cabeça, anda mais para lá do que pra cá. Antes de ir, uma receitinha básica e fácil que é para não perder o costume e adoçar a vida, refrescar a cabeça e dar uma pausa na alma.
Creme de abacaxi
Ingredientes:
• 1 abacaxi pequeno picado em cubos
• 700 ml de água
• 2 envelopes de gelatina de abacaxi
• ½ lata de leite condensado
• 2 caixinhas de creme de leite (400 gramas)
Modo de fazer: Leve o abacaxi com o açúcar e a água ao fogo alto até levantar fervura. Abaixe o fogo para médio e deixe cozinhar por 20 a 25 minutos. Fora do fogo, adicione a gelatina e misture até derreter. Acrescente o leite condensado e o creme de leite e misture bem até incorporar. Despeje em refratário transparente e leve para gelar de um dia para o outro até firmar. Ah, você não gosta de abacaxi, não? Então, bora variar. Essa receita pode ser feita também com morango ou com manga.