Papai vivia pelo sertão campeando gado. Gostava daquela vida. Começou na lida ainda criança. Nem bem tinha completado quinze anos e ele já estava lá, no lombo de um cavalo. Varava sertão adentro ao som do berrante. Quando o sol se punha o menino vaqueiro se juntava aos peões em volta da fogueira. Aí era causo que não acabava mais. Comida farta, barriga cheia, nada de dormir. A tropa ainda tinha fôlego para muita cantoria. No dia seguinte, bem antes do sol raiar, todos estavam prontos para recomeçar. E Papai junto.
Ouvi essa história dezena de vezes. Mas não reclamo. Há sempre algo por dizer. Um detalhe, uma revelação, um nome, uma cidade, amizades que se perderam no tempo. Nessa semana a novela Pantanal devolveu toda essa memória ao meu velho Pai. Tá bom. Eu sei. Nao adianta tapar o sol com a peneira. A cabecinha dele nao anda lá essas coisas. Já esteve bem melhor. A verdade é que o “Velho” Osvaldo anda mesmo meio esquecido. As memórias vêm e vão. Nada que uma boa dose de emoção não resolva. Foi o que aconteceu. As cenas da novela das oito encheram nosso Pai de vida. A memória dele voltou aos borbotões. Corredeira volumosa avançando sobre as pedras do Rio Pará.
Tal qual os personagens de Pantanal, o nosso “Velho” Osvaldo vive em constante comunhão com a natureza. É parte dela. Pra fazê-lo feliz basta o gorjear de um pássaro, o mugido de um boi, o tropéu do cavalo, um milharal que desponta, fruta no pomar, canteiro que promete verdura à mesa, vento anunciando chuva.
Tá aí o Fabrício Carpinejar que não me deixa mentir. Ele acredita (e eu estou de pleno acordo) que mesmo se a gente estiver soterrado pelo mundo ainda será possível manter o contentamento. O miúdo é mesmo infinito. Ou como diria Guimarães Rosa, “a felicidade se acha é em horinhas de descuido”, né mesmo “Velho” Osvaldo?
Ah, sobre a novela, se você perdeu os primeiros capítulos deixa eu dar uma rebobinada aqui. A Pantanal de agora é um “remake” da original exibida em 1990. O texto atual é de Bruno Luperi, neto de Benedito Rui Barbosa, autor do primeiro texto.
“Pantanal” conta a história de Joventino (Irandhir Santos) e seu filho, José Leôncio (Renato Góes/Marcos Palmeira). Ambos peões de comitiva na região pantaneira. É na lida que ambos aprendem que a melhor lição para domar os bois selvagens é respeitando a natureza. Outro destaque é Juma Marruá (Alanis Guillen), filha de Maria (Juliana Paes), mãe de outros três filhos mortos por vingança e pela disputa por terras. Assim como a matriarca, reza a lenda que Juma também se transforma em onça-pintada quando precisa enfrentar algum perigo.
Além do roteiro, da direção e das cenas belíssimas, a novela tem uma trilha sonora de arrepiar. Lembra de “Disparada”? Pois, é! Jair Rodrigues! Tudo de bom. Vale a pena ver de novo. Muito.
Estamos adorando a novela aqui em casa. Mas dá pra ver os danos à natureza no Pantanal. Muitas árvores secas caídas e muito menos água. Mas a natureza continua bela e o clima rural é bom pros olhos e pra alma.
Sou igual ao velho Osvaldo! Amo tudo que se refere a natureza…..
Eu, também.