Louças que contam histórias

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Imagem - rebzanetti-redes sociais
Imagem - @rebzanetti-redes sociais

Sempre gostei de louças. Minha mãe também era assim. Até já contei aqui sobre o aparelho de porcelana.  É rosa bem clarinho. Tem desenhos e frisos em vermelho e dourado. Está no mesmo lugar em que ela deixou antes de encantar-se. Fica guardado dentro de um armário. Intacto até hoje, exceto por uma xícara. Os cacos ainda machucam. Mamãe chorou por dias a perda de parte do objeto tão desejado.

Lembro da última vez em que o aparelho foi usado. A visita era ilustre. O Padre da nossa cidade veio tomar café com a família. Mamãe não teve dúvidas. O momento era solene.  Merecia a preciosidade à mesa. O café foi um sucesso. E, obviamente, a louça foi a estrela da vez. Brilhou.

Já adulta, montando a minha primeira casa, ganhei um aparelho completo da mamãe. Louça branca estampada com coraçõezinhos vermelhos. Usei pouquíssimas vezes. Só deu as caras em ocasiões muito especiais. E o medo de quebrar? Pensando bem, adoraria ter recebido o Padre Adriano para um café com bolo e quitandas mineiras. Acho que não. Uma sopa bem fumegante servida nos pratos fundos seria mais adequado. Combinaria mais com o clima da Irlanda. É pra onde ele foi. Padre Adriano agora é pároco em uma pequena cidade perto de Dublin. Por lá faz muito frio.

Há dias, vi um post da Renata Bastos Zanetti (#rebzanetti), uma confeiteira que adoro. Acredita? Ela também tem uma louça de coraçãozinho que nem a minha. Foi presente de casamento. E lá se vão 40 anos. Bodas de Esmeraldas e o jogo de chá e bolo está quase completo. Faltam poucas peças. Como no meu caso, a louça dela também conta uma história. Além de ornar a mesa, casa muito bem com bolinhos Romeu & Julieta que ela faz na sua cozinha mágica.

Voltando às louças das mulheres da familia, Jacq e Lulu também herdaram esse gosto da mamãe. Jacq é bem vanguarda. Gosta das modernas, daquelas com designer mais arrojado, mais contemporâneas. Lulu é como eu. Gosta de louças usadas, daquelas que trazem marcas. Vive em antiquários. Tem várias peças que contam histórias.

Gilda, mais pragmática, não se liga muito nessas coisas. Está mais interessada é no forno com convecção, daqueles que fazem o ar quente circular internamente. Pra você ter idéia, ela adquiriu no Shoptime ( ou seria na Polyshop? É fã das duas) uma Airfryer da marca “George Foreman”. Isso foi muito antes desse equipamento virar modinha. Agora tá de olho num copo Stantey.

A Gyslaine está entre moderna e conservadora. Como toda boa dona de casa, gosta de praticidade. Prefere as louças mais resistentes, que sejam fáceis de armazenar. Mas que sejam bonitas. Afinal, ela não nega o DNA. “Que me perdoem as feias, mas beleza é fundamental”, né mesmo, Vinicius?

Ah, a Denise? Ela é a guardiã das louças da família. Ai de quem ousar mexer em alguma peça. Não tô nem falando do aparelho de porcelana. Tô falando de qualquer uma.

–  O que você vai fazer com essa travessa? Vai quebrar. Era da mamãe. Melhor não usar.

Acho que ainda não contei aqui. É que além de louças, gosto também de taças. Na verdade, amo. Até coleciono. Garimpei a maioria em antiquários; outras, ganhei dos amigos que viajam pelo mundo. Aproveitando, aqui vai uma dica despretenciosa: há espaço para mais, viu?

Sei, não. Mas acho que você deve estar aí matutando:

  • Como é que essa moça consegue falar sobre louças e taças enquanto o mundo aqui fora tá de ponta a cabeça?

Pra lhe responder (supondo que você perguntou) pedindo licença à querida Adélia Prado pra me apropriar da sabedoria dela:

  • “Esconder-se no porão, de vez em quando, é necessidade vital. Precisamos de silêncio e solidão (… ) Senão, corremos o perigo de nos esvairmos em som, fúria e esterilidade (…)”

E num é que é? Adélia sabe das coisas.

9 COMMENTS

  1. Você desenhou bem o perfil da manas. Só uma correção quanto a mim. Adoro taças. Para mim as bebidas devem ser servidas nos copos certos.

  2. Amei a crônica! Ler você me traz um sentimento de conforto, de colo, de amor. Obrigada!! Mas, ao contrário de vocês, guardiãs, eu usaria todas as louças lindas que tem, em homenagem à sua mãe! “O amanhã chegará (talvez!), mas aproveite primeiro o hoje!” Eddie Jaku

  3. Adorei. Acrescenta a Thaís nesse hall de apreciadoras das Louças e taças. O perfil seria entre o clássico e a vanguarda. Ela tem taças de cristal que vieram dos balcãs (não me lembro se é Macedônia, Sérvia…), mini xícaras que comprou em Bruges na Bélgica até canecas comuns de Buenos Aires, com desenho da Mafalda.

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