Muita gente comenta:
- Nossa! A família de vocês é muito unida. Que Deus guarde e conserve!
Amém! Graças a Deus! Somos unidos mesmo. Sempre cuidamos uns dos outros. Seja nessa ou em outras encruzilhadas da vida.
Uma delas foi quando Beto nasceu. Mamãe fazia faculdade. Voltou à sala de aula quando ele tinha apenas um mês de nascido. Mamãe trabalhava e estudava. Enquanto isso, meu pai vivia pelas estradas da vida. Afinal, era preciso buscar aumentar o sustento da prole.
- Cuide de seu irmão, disse minha mãe com firmeza antes de voltar às aulas.
Obediente, nem questionei. Pelo excesso de zelo passei a ser chamada de “Mãe Zela” logo que o Beto começou a falar.
Todas as noites, quando Beto adormecia, lá estava eu. De guarda. Ficava ali, quieta, ao lado berço, observando o sobe e desce do peito dele.
- Será que o Beto tá respirando? Tinha pavor do meu irmão não acordar.
Foi assim até ele completar sete anos e ir para a escola. Na sala de aula Beto era o único que tinha duas mães: a original e eu, a Mãe Zela.
- Quem é a sua mãe?
Sem pestanejar ele respondia:
- Tenho duas. A Mamãe a Mãe Zela.
Que mico! Ninguém, além dele, tinha duas mães. A pressão foi tanta que o filho das duas mães acabou optando pelo óbvio. A partir daquele momento, decidiu que só teria uma mãe. A original, off course! Ele seria igual aos coleguinhas. Era mais fácil de explicar.
Se depois desse episódio continuei cuidando dele? Sempre. Até hoje.
No caso do Papai não é muito diferente. Com mais de 90 anos a saúde do “Velho” Osvaldo anda exigindo alguns cuidados. É um tal de leva e traz aos médicos, de cirurgias disso e daquilo, de consultas informais à médica da família – desculpe-nos pelo excesso -, de exames inimagináveis. Alguns, pasmem, demandam até Medicina Nuclear? Esse nome assusta, né? Até então a gente achava que isso se aplicava somente às manobras e equipamentos militares. Só que não. Salvam vidas também.
Menos daqueles que pesquisaram e chegaram ao milagre. Li recentemente que todos os cadernos de anotações de Marie Cury estão guardados em caixas especiais com várias camadas de chumbo. Permanecerão ali por 1,5 mil anos. Nessas caixas, armazenadas nos porões da Biblioteca Nacional da França, estão alguns dos documentos mais relevantes da história da humanidade. Uma matéria recente publicada pela BBC revela que para consultá-los é preciso vestir roupas de proteção. A gente ainda tem que assinar uma declaração de consentimento, na qual os pesquisadores eximem a instituição de qualquer responsabilidade.
A propósito, Marie Curie é a única mulher a receber o prêmio Nobel duas vezes. Um em 1903, de Física, e, o outro, em1911, de Química. Junto com seu marido, Pierre, Marie descobriu não apenas novos elementos químicos, como também os princípios da Física atômica e a radioatividade.
Mas, voltando à vaca fria, se na infância passava horas observando a respiração do Beto, com o Papai não é diferente.
- Pode ir dormir, minha filha. Eu estou bem, diz ele. Para me impressionar o “Velho” Osvaldo até tenta mostra desenvoltura flexionando as pernas que já caminharam muito pelas estradas do Brasil. Também movimenta com certa agilidade os braços que já bateram muito volante por aí.
Diante de tamanha demonstração de vigor, eu até acredito. Mas vai saber, né mesmo? Vai que ele só quer me deixar mais tranquila.
Ops! Não pense você que nossa vida se resume a isso. Proximidade com médicos e hospitais faz parte. A verdade é que convivemos com o outro lado do “Velho” Osvaldo. Esse gosta mesmo é de uma pinguinha e de um bom bolero e de um tango bem dançado. Pra isso as pernas funcionam que é uma beleza.
E com o Natal batendo à porta, o nosso pedido pra Papai Noel não podia ser diferente. Como diz a Cristiane Lisboa, uma das minhas writers preferidas, nesse e em outros casos, “as entrelinhas cantam Rita Lee: baila, baila comigo (…)”. E que siga o baile. Indefinidamente.
