São mais de 90 voltas em torno do sol. Ai é natural que as visitas do papai ao consultório médico se tornem cada vez mais frequentes. Faz parte. Não há corpo que aguente o tranco. Se dói o rosto maltratado pela última cirurgia, dói também a coluna que sustenta a lida. E o que dizer do velho coração machucado pelas ausências? Esse dói demais. Não há remédio que cure.
Mas, verdade seja dita. O nosso Velho Osvaldo é duro na queda. Nunca se deixa abater. Lembra da Polyana? Aquela mesma. A do “jogo do contente”? Certamente Papai nunca leu a obra da escritora Eleanor H. Porter , mas sabe jogar direitinho. É aquela história do “se não tem remédio, remediado está”. Ou “se você tem um limão faça dele uma limonada”. No caso, se tem que ir a mais uma consulta, que essa seja uma celebração.
É assim quando se encontra com o Dr. Lissandro. Papai encara a ida ao consultório do cardiologista de Divinópolis como uma visita a um velho amigo. Tem de tudo. De troca de presentes a muitos causos a serem contados. E dá-lhe risada. Santo remédio.
- Seu Osvaldo, eu já contei a história da cobra cascavel pro senhor?
- Essa eu não conheço, não Dr. Lissandro.
- Pois aconteceu numa pescaria no Rio Pará …
Fim da consulta, remoçado, Papai se diz pronto pra outra. E antes da despedida ainda revela ao Dr. Lissandro a traquinagem que anda planejando.
- Tenho que ir a Buenos Aires dançar um tango com as minhas meninas.
Ah, no caso, as meninas somos nós, as filhas. Voltando às consultas, a ida ao consultório do Dr. João Batista é outra aventura. Dessa vez, em Beaga. E dá-lhe mais conversa, troca mútua de elogios e conselhos que Papai pouco ouve (ou, espertamente, finge que não ouve).
-Seu Osvaldo, nada de pegar peso, heim? Que história é essa que o senhor machucou o braço lidando com uma vaca brava? Deixa isso pra gente moça. O senhor tem é que aproveitar pra curtir a vida.
Quem disse? Papai nunca esquenta lugar. Mal termina a consulta já quer voltar pra Conceição do Pará.
- A seca tá brava. O pasto tá muito seco. Tenho muita coisa pra fazer por lá. Não posso ficar aqui à toa.
Que sorte a nossa, né? Que bela limonada esses dois médicos servem ao nosso pai. Com eles o tal do “atendimento humanizado” sai do discurso da academia para o dia a dia do consultório. Dito isso só consigo lembrar de um recorte de “O menino que escrevia versos”, obra do maravilindo Mia Couto:
— Dói-te alguma coisa?
— Dói-me a vida, doutor.
O doutor suspendeu a escrita. A resposta, sem dúvida, o surpreendera.(…)
— E o que fazes quando te assaltam essas dores?
— O que melhor sei fazer, excelência.
— E o que é?
— É sonhar.
Linda crônica, Gi! O velho OSWALDO é um manancial inesgotável de exemplos e casos! Fale pra ele largar as vacas bravas e levar vocês para um tango no Café Tortoni! Beijo.
Obrigada pela delicadeza do comentário. 🎀
Ahhhhh Gisele! Sonhar!! Como cura sonhar!!
Meu querido Osvaldo, é um álbum de sonhos realizados e um portal para se sonhar!
Crônica maravilhosa!! Um elixir para a alma!
Beijossss