Beleza: cada pessoa tem a sua

Há dias, a procura de leveza, me vi presa em uma entrevista do Mauro Mendonça Filho. O diretor tecia altos elogios à Grazzi Massafera e não economizava adjetivos ao desempenho da atriz. Uma frase em especial chamou minha atenção. Mendonça Filho dizia que “a beleza da Grazzi é apenas um portal para o seu infinito particular”. Ai, não deu outra, né? Quem me conhece já sabe. Fiquei matutando por vários dias. Na verdade, ainda continuo com a pulga atrás da orelha.

Será que ele quis dizer que se a beleza de alguém não prender o nosso olhar a gente vai perder a chance de conhecer quem é a pessoa de fato? Se for isso, eu discordo. Aliás, com o passar do tempo, me convenço cada vez mais que o senso estético é algo tão pessoal que não poderia haver padrão. Não tem aquela frase de “quem ama o feio bonito lhe parece”? Pois, é! Essa deveria ser a regra.

Quer um exemplo? Eu gosto do corpo inteiramente tatuado do chef de cozinha Henrique Fogaça. Não há quem me convença que aquela trama de tatuagens não lhe confira força. Uma das minhas irmãs não concorda. É só o Fogaça aparecer na tela pra Denise comentar:

• Como é que o Fogaça teve coragem de fazer isso com o próprio corpo?

Concordo em termos. Acredito que “vestir” uma imagem impactante é mesmo um ato de coragem. Só não acho que seja “feio”. No caso do Fogaça, combina muito. Tudo a ver com o perfil e garra do chef.

Não posso dizer o mesmo do Michel Prado, o “Diabão”, figurinha carimbada das redes sociais. O tatuador de 46 anos já realizou 66 procedimentos para modificar mais de 80% do corpo. O objetivo, segundo ele, é se aproximar da imagem de um demônio de ficção. As modificações incluem desde chifres implantados na testa até a retirada do nariz. Fiquei sabendo pelo Google que por causa desse arremedo de “ser das trevas” Prado já atraiu mais de 75 mil seguidores. Ah, ele tem uma parceira. É casado com Carol Prado, de 35 anos. A “mulher demônia” está em transformação há cerca de 3 anos. Tem 60% do corpo tatuado e já fez alterações na língua, nos olhos, dentes e testa.

Exageros à parte, reitero que a beleza está mesmo nos olhos de quem vê. Daí pra enxergar a alma é um pulo só. Papai, da varanda de casa, exercita diariamente o seu olhar de raio-x. Só pra esclarecer, Papai não veio do planeta Kripton, não voa na velocidade da luz e nunca dobrou cabos de aço. Do Super Homem tem o coração gigante e os olhos que veem além do óbvio. Com a idade veio a sabedoria. Ler a alma é com ele mesmo.

Não há quem passe ou fique indiferente à presença do Velho Osvaldo na varanda de casa. Há sempre um bom dia, uma boa tarde, um boa noite. Muitas crianças não se contentam apenas com o cumprimento. A maioria se agarra à grade da varanda e não arreda pé sem um afago do Vovô Osvaldo. Na verdade, adulto ou criança, ninguém é indiferente ao Papai.

• Fulano de tal é gente muito boa. É muito meu amigo. Conheci os pais dele. Família ótima.

Nossa, mas será que todo mundo é mesmo seu amigo?

Talvez, não. Mas, pra quem que como o Papai não se prende ao óbvio, que vai além do rosto, do corpo belo e perfeito, o infinito particular está sempre ao alcance da mão. Ou de um olhar.

Ah, só pra esclarecer, o casal “Diabão” acredita em Deus. Pelo menos foi o que o tatuador disse numa entrevista para o programa “Linhas Cruzadas” da TV Cultura. E pra quem ainda não assistiu, esse programa é ótimo. A jornalista Thaís Oyama e o filósofo Luiz Felipe Pondé dão um show. Palmas pra eles.