A operação durou 15 meses, mas acaba de ser completada com sucesso. Nove 9 girafas de Rothschild, uma subespécie em risco de extinção, foram resgatadas da Ilha Longicharo, no Quênia. A vida das girafas estava ameaçada por conta do excesso de chuvas que vem ocorrendo na ilha desde o ano passado.
Por conta da grande quantidade de água, os animais estavam ficando a cada dia mais distantes dos alimentos e dos recursos naturais que precisavam para sobreviver. Então, a saída encontrada para preservar as girafas foi montar uma operação para transferí-las para um local seguro.
Por se tratar de um resgate inédito, o trabalho envolveu uma equipe multidisciplinar, que contou com veterinários, técnicos e membros de comunidades locais.
O primeiro desafio encontrado: qual o meio de transporte para adequado para tirar as girafas da ilha? Especialmente porque elas podem pesar próximo de uma tonelada e têm, em média, 4 metros de altura. Integrantes da comunidade adaptaram uma embarcação, que flutuava sobre 60 tambores vazios e era arrastada por um barco a motor.
A embarcação recebeu o nome de GiRaft, uma mistura das palavras “giraffe” e “raft”, que no inglês sifnifica jangada. Mas como colocar as pesadas e pescoçudas girafas no barco?
Embarcação especial
Os guardadas da reserva Ruko, envolvida na operação, trabalharam por meses para acostumar cada animal com a embarcação, deixando sobre ela as comidas preferidas pelas girafas: folhas de acácia, sementes e mangas. Uma a uma, as nove foram transportadas por aproximadamente 1,6 km pelo lago até chegar à margem.
A última a ser transportada foi Noelle, quase uma bebê. Ela recebeu esse nome porque nasceu em dezembro do ano passado, bem próximo do Natal. Por ser um bebezinho, a equipe de resgate teve que aguardar até que ela ganhasse peso e força para aguentar a viagem. Em abril, ela consegui se juntar à mãe e aos demais integrantes do grupo.
Todas estão agora seguras e bem tratadas no Ruko Community Conservancy, um centro de conservação que é considerado um santuário no Quênia.
“Com as girafas em uma extinção silenciosa, esse resgate é um passo importante no apoio à sobrevivência da espécie”, disse David O’Connor, presidente da organização Save Giraffes Now, outra entidade envolvida na operação.
De acordo com organizações que trabalham em defesa da preservação das girafas, a população desses animais dimuniu cerca de 40% nas últimas três décadas. Mas no caso da subespécie Rothschild, a diminuição foi de cerca de 80%. A meta dos responsáveis pela operação é introduzir outras girafas dessa subespécie no santuário, que tem capacidade para receber até 50 animais.
Paz entre comunidades adversárias
O objetivo é que o grupo possa se reproduzir, criando uma população geneticamente saudável para que, no futuro, elas possam ser liberadas no ecossistema local.
Uma outra curiosidade da operação: houve uma colaboração inédita entre as comunidades Pokot e Il Chamus, que uniram esforços de conservação após anos de conflito. “Esse é um exemplo de como a paz está ligada a tudo o mais – conservação, meios de subsistência, negócios, igualdade de gênero e governança”, disse Rebby Sebei, gerente da Ruko Community Conservancy.
Quatro organizações estiveram à frente da missão: as quenianas Ruko Conservancy, Northern Rangelands Trust e Kenya Wildlife Service, e a Save Giraffes Now, uma organização não-governamental dos Estados Unidos.