Os primeiros áudios de alta qualidade que o rover Perseverance gravou em Marte foram divulgados pela Nasa nos últimos dias. O que pouca gente sabe é que um dos responsáveis por esse grande feito é o engenheiro mineiro Ivair Gontijo. Ele nasceu na pequena cidade de Moema, centro-oeste mineiro, e integra a equipe da agência americana que coordena a missão ao Planeta Vermelho.
“Fui o engenheiro responsável por todas as interfaces entre o instrumento SuperCam [que conjuga câmeras, laser e espectrômetro] e o veículo”, conta o engenheiro. Essa SuperCam é a responsável pelo envio de imagens em altíssima definição da superfície de Marte.
Um diferencial da câmara é um microfone super sensível, que capta o barulho dos ventos em Marte, bem como o som do raio laser que é disparado nas rochas para o trabalho de pesquisa. No Perseverance, ela se assemelha a uma caixa de sapatos e parece ser a “cabeça” do robozinho.
Abaixo, na página da Nasa no Twitter, é possível ouvir o som do vento em Marte e o barulho do raio laser contra as rochas:
História de sucesso e superação
A história de Ivair não é apenas um caso de sucesso, mas de superação e determinação. Nasceu na pequena Moema, cidade de pouco mais de 7 mil habitantes do interior de Minas, numa família de 9 irmãos. Perdeu o pai muito cedo e a tarefa de cuidar dos filhos ficou com a mãe.
Para ajudar em casa, trabalhou, ainda criança, como engraxate. Trabalhar na Nasa nunca passou pela cabeça de Ivair, mas ele sempre demonstrou interesse por assuntos ligados ao espaço.
Foi a mãe, como conta sua irmã Terezinha de Fátima Gontijo, que despertou na criança essa curiosidade. “Minha mãe entendia tudo de zodíaco, de horóscopo. Não tinha luz elétrica e a gente ficava observando o céu, e ela nos explicando as coisas”, lembra a irmã.
Aos 9 anos de idade, ele conta que viu pela televisão, fascinado, Neil Armstrong andando na lua.
“Eu e outras crianças estávamos brincando de bola na rua em frente à minha casa, quando um dos meus irmãos me chamou. Ele disse que os vizinhos haviam comprado uma máquina estranha, que dava para ouvir e falar com pessoas de longe. E foi assim que eu vi Neil Armstrong andando na lua”, contou Ivair.
Paixão pela física
Como não existia ensino médio em Moema, Ivair foi fazer o segundo grau em uma escola agrícola na cidade de Bambuí. Na biblioteca da escola foi que ele conheceu, por meio dos livros, Isaac Newton e Albert Einstein, e mergulhou no mundo da ciência e da física.
Ao terminar o ensino médio, prestou vestibular para física na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ficou entre os 10 primeiros colocados, concluiu o curso e na mesma instituição fez o seu mestrado. Logo em seguida, foi para a Escócia fazer doutorado. Tão logo concluiu o doutorado, foi trabalhar na Califórnia. Mas lá chegou a ficar desempregado.
“Entre 2000 e 2003 muitos engenheiros perderam o emprego aqui nos Estados Unidos, inclusive fui um deles”, lembrou Ivair. No entanto, o engenheiro havia estudado algo que poucos de seus colegas estudam: o comportamento do raio laser. Esse “detalhe” o levou para a Nasa em 2006.
Esperança de ver homem chegar a Marte
Na agência espacial norte-americana, seu primeiro projeto foi liderar o grupo que desenvolveu os transmissores, os receptores e o conversor de frequências do radar do rover Curiosity, que chegou a Marte em 2012.
Em 2018, Ivair Gontijo publicou em livro sua história, em que conta como sua trajetória contribui para a saga humana em busca do conhecimento extraterrestre. “A Caminho de Marte: A Incrível Jornada de Um Cientista Brasileiro até a Nasa” , publicado pela editora Sextante, ganhou o prêmio Jabuti, um dos mais importante da literatura brasileira.
Sobre a missão espacial, Ivair Gontijo acredita que ainda estará vivo para ver a hegada dos primeiros humanos ao planeta vermelho. “Pode ser que Marte venha a ser a segunda morada da espécie humana. E esse futuro possível tem de começar a ser construído agora”, afirma.
No vídeo abaixo, produzido pela Federação das Indústrias do Rio de janeiro (Firjan), Ivair Gontijo fala um pouco mais sobre a missão em Marte:
Com informações do site alemão DW (Deutsche Welle) e G1