Amo palavras. Amo especialmente as arcaicas. Isso sem falar nos neologismos. Esses, então, são os meus prediletos. Em tempos de quarentena, desconstruir as minhas queridinhas virou rotina.
Tipo namorado (a). Já reparou que no meio dessa palavra tem um recheio pra lá de especial? “Namorado” vem entremeado com “amor”. Se o recheio é retirado sobra o que mesmo? “Nadaaaa!!!
Mudando um pouco o rumo da prosa, você já se deu conta que a palavra “enfezada” tem um quê de escatológica?
Essa palavra vem de “fezes”. Quando você tem prisão de ventre, o intestino fica congestionado por um grande volume de fezes. E aí vem o mal estar e dá-lhe mau humor. Você fica “enfezada”. Mau humor, cheio de fezes, enfezado. Entendeu? Ai, meu Deus!
E se é pra desconstruir palavras vale escarafunchar (ops!) as chamadas línguas neolatinas. Pra combinar com a pandemia, que tal começar com “enfermo”? A danadinha dessa palavra vem do latim “infirmu”, palavra formada de in + firmu, cujo significado é, acreditem, “não firme”.
E se a ordem é “fique em casa”, nada de sair bordejando (amo o verbo “bordejar”) por aí de ônibus. “Omnibus em latim significa “para todos”. Portanto, nessa quarentena, melhor não se enfiar numa verdadeira “lata de sardinha”. Epaaa !!!
E os neologismos, heim? Que delícia! Mia Couto e Guimarães Rosa são especialistas nessa arte. Mia “inventa palavras para fazer com que elas digam coisas que nenhuma outra diz”. É daí que vem o “abensonhado” e o “apassarinhar-se” e muitas outras. O Mia conta que a descoberta de Guimarães Rosa fez um mundo novo descortinar-se para ele. Foi quando sentiu-se autorizado a usar as palavras como quisesse. Sorte a nossa.
Matutando aqui. Vai que rapidinho a ciência dá a volta por cima nesse tal de Coronavírus. Enquanto isso não acontece a gente segue “ensimesmudecido”. Epa !!! Olha eu aqui me apropriando de uma invenção “roseana”. Mistura de ensimesmado com mudo.
Jesus! Viajando aqui. Sequela da pandemia.
Que delícia de texto. Amei.