Em tempos de incêndios e desmatamento que assolam a floresta Amazônica e chocam o mundo, uma pesquisa feita por pesquisadores brasileiros, boa parte deles da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Federal de Viçosa (UFV), mostra que destruir a mata é um péssimo negócio. A floresta em pé, dizem os pesquisadores, gera uma economia anual de US$ 8,2 bilhões para o país, o equivalente a R$ 33 bilhões.
“Mas esse é um número subestimado. Sabemos que a economia é muito superior a isso”, afirmou ao Boas Novas a professora Gabrielle Pires, do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa (UFV), que participou da pesquisa.
Em artigo publicado na prestigiada Nature Sustainability, uma das revistas científicas mais importantes do mundo, os pesquisadores mostram que o ganho financeiro em área desmatada para agricultura e pecuária não compensa a perda da riqueza que a floresta, de pé, preservada, pode gerar ao país com os muitos dos seus serviços ecossistêmicos.
Os professores, que trabalharam na pesquisa durante três anos (financiada pelo Banco Mundial), informam que os ecossistemas naturais prestam, de forma gratuita, o que eles chamam de “serviços ecossistêmicos”, que trazem enormes benefícios ao homem.
Serviços ambientais
Alguns não podem ser precificados, mas outros têm um grande valor financeiro, revelam os professores, como o controle de erosão, a prevenção de enchentes, a regulação climática e o extrativismo de produtos naturais (como borracha, madeira, frutas e sementes).
A soma dos serviços ambientais, segundo os pesquisadores, pode chegar, em algumas áreas, a US$ 737 por hectare por ano, um valor muito superior à receita bruta gerada pela pecuária de baixa produtividade na Amazônia, normalmente inferior a US$ 400 por hectare por ano.
“O valor calculado pode ser perdido anualmente, caso aquele trecho de floresta seja removido. É o que perdemos ao desmatar a floresta”, explica a professora Gabrielle Pires. Mas os pesquisadores só quantificaram quatro dos 17 serviços ecossistêmicos documentados na floresta, o que significa que a economia de R$ 33 bilhões apontada pode ser ainda bem maior.
Foram objeto do estudo os serviços como a produção de castanha do pará e de matéria prima a partir de madeira e borracha, mitigação do efeito estufa por meio do estoque de carbono, regulação do clima para o agronegócio e geração de energia hidroelétrica.
“Nós precificamos cada quilômetro quadrado dos seis milhões de hectares da Pan-Amazônia, mas, ainda assim, o trabalho foi conservador. Alguns serviços como o turismo e a imensa biodiversidade contida na floresta, por exemplo, não foram contabilizados por serem potenciais ainda desconhecidos em sua totalidade”, assinala o professor Marcos Heil Costa, outro dos professores da UFV que participou da pesquisa, em entrevista para a assessoria de comunicação da instituição.
Impacto no regime de chuvas
Uma das conclusões da pesquisa é que destruir a floresta para aumentar a área plantada é um desastre. “O ganho em espaço para a agropecuária não compensa as perdas econômicas causadas pela derrubada da floresta. É ela que garante a constância do regime de chuvas e viabiliza muitas atividades econômicas que dependem do clima no Brasil”, afirma o professor Marcos.
A contribuição da Amazônia para a regulação climática em todo o Brasil e na América do Sul foi outro objeto do estudo. E os resultados não deixam dúvida. “Quanto mais próximo à área desmatada, maior a influência do desmatamento sobre o regime de chuvas, mas as consequências são continentais” explica a professora Gabrielle. Ela afirma também que o desmatamento na região está tornando mais longo a estação da seca, com reflexos na agricultura.
O professor Marcos Heil acrescenta que a remoção da floresta reduz a duração da estação chuvosa, sobretudo em áreas do arco do desmatamento, formado pelos estados do Mato Grosso, Pará, Rondônia, bem como na região adjacente à Amazônica, chamada de MATOPIBA, formada por parte dos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia:
“Hoje os produtores cultivam duas safras anuais, uma de soja e outra normalmente de milho. O desmatamento encurta a estação chuvosa e coloca em risco a dupla safra, comprometendo a produtividade e a produção total”, afirma o professor.
Participaram da pesquisa 13 professores, sendo 9 do Brasil. O estudo usou dados de censo agropecuário, outros coletados em campo, preços de commodities agrícolas, sensoriamento remoto e modelagem para permitir diversas simulações de cenários de desmatamento.
Os resultados estão disponíveis nas plataformas do Grupo de Pesquisa em Interação Atmosfera- Biosfera e AmazonEco Services, do Centro de Sensoriamento Remoto da UFMG . Elas são interativas e permitem ao usuário comum fazer simulações de perdas financeiras para cada área e para todos os serviços ambientais analisados pela pesquisa.
Relacionadas
UFV e Leonardo DiCaprio trabalham em nova Arca de Noé
Meio ambiente é tema mais discutido no Twitter, diz estudo