Sergio Bizzio construiu em “Raiva” (Record) um universo urbano propício para discutir desejos e fazer uma analogia com a vida argentina. Lançado originalmente em 2005, após os distúrbios que derrubaram três presidentes, o livro capta um momento decisivo da história recente da Argentina.
A trama é simples e beira o fantástico. María é um pedreiro que se apaixona por Rosa, uma doméstica numa mansão próxima à obra onde trabalha. De pavio curto, María implica com quem olha para seu objeto de desejo e não controla sentimentos quando questionado. Mata o capataz da obra e se vê obrigado a se esconder.
Vai parar na mansão onde Rosa trabalha, sem que ela nem ninguém descubram. A casa de quatro andares ajuda a se manter incógnito. Lá, sobrevive com incursões noturnas à cozinha e ao banheiro. Com o passar do tempo, vai observando a rotina da casa, os sentimentos que dominam as relações do velho casal tradicional e seus filhos, as ligações de patrões e empregada, sem poder interferir diretamente.
Quando o faz, vai guiado pela raiva, pelo excesso.
Bizzio expõe a Argentina raivosa, que foi às ruas bater panelas e derrubar governos. Em diálogos rápidos, originais e bem orquestrados, vai fundo na ferida argentina.
María observa e, do seu exílio, tenta controlar a vida de Rosa. Começa a delirar e transforma o devaneio em realidade. Então, o controle se vai. E Bizzio narra a transição como a passagem secreta de Cortázar.
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O livro está disponível na Amazon e na Estante Virtual. “Raiva” também virou filme, pelas mãos do diretor Sebastián Cordero.
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