3 livros sobre gastronomia que não se rendem ao gourmet

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Coluna indica 3 livros sobre gastronomia

Hoje, qualquer biboca abre com a palavra gourmet no nome do estabelecimento ou na descrição do seu cardápio — às vezes, nos dois. Basta uma invenção para que uma receita se transforme em algo “diferencial” — outro termo muito usado e que já caiu no clichê.

A gastronomia respira por tendências, como escreveu Marina Cunha em sua coluna no Boas Novas. Mas é impossível não perceber exageros, um certo “levar a sério” demais, sem que os pratos servidos justifique tanto barulho.

Se o gourmet virou banal e sem sentido, há quem procure escapar desse cenário para enxergar na gastronomia algo mais simples do que receitas com 50 ingredientes e sobremesas que derramam caldas pelas taças.

A Bússola separou três livros sobre gastronomia e que tratam da cozinha, mas de um jeito mais simples. Pode ser um escritor inglês se atrapalhando com os ingredientes, ou uma chef famosa relatando experiências desastrosas em restaurantes enquanto lembra da receita da sua mãe. Ou pode também relatar uma viagem ao Japão.

Então, confira as três indicações desta semana. Estes livros sobre gastronomia certamente vão mudar sua visão da cozinha e do ato de comer.

O Pedante na Cozinha

Alguns livros só poderiam ter sido escritos por ingleses. Como este, de Julian Barnes. Com um humor fino, elegante e sarcástico, os relatos tentam dar conta da descoberta do escritor por uma receita, pela gastronomia e o ato de dominar a cozinha.

Em 17 textos, Barnes vai encarar o ato de cozinhar e receber como um chef, mas na verdade o autor não passa de um aprendiz, quando muito. Vai a restaurantes e observa todo o ritual que envolve comer fora.

Poucos livros de gastronomia se permitem rir da função. Este “O Pedante na Cozinha” (Rocco) não só faz uma auto-análise como entrega um pouco de leveza para o leitor que pretende se aventurar pelas panelas.

O Frango Ensopado da Minha Mãe

O livro lançado pela Companhia das Letras traz um conjunto de textos que Nina Horta escreveu para a “Folha”. Ela trata a gastronomia com a percepção de que nem tudo precisa ser glamourizado, elevado à enésima potência para ser saboreado. Tampouco finge que apenas o simples é o melhor. Há espaço para ambos.

O salutar, neste caso, é que a cronista faz da culinária uma personagem cotidiana, uma companheira de almoços e jantares, passeios e encontros furtivos. Seu texto elegante e simples transforma a crônica num mergulho envolvente nesse universo.

Ela descreve ingredientes redescobertos, restaurantes que a animam e decepcionam, pessoas que se revelam cozinheiras em situações extremas, o seu dia a dia no comando de um bufê e suas experiências gastronômicas pelo mundo.

Hoje, assim como restaurantes, cafés e lanchonetes acham que precisam descobrir palavras bregas e exageradas para dar consistência ao cardápio, cronistas e críticos também pensam ser esse o caminho para seus textos. Nina Horta mostra que não. E com categoria.

As Minhas Receitas Japonesas

O livro da chef Mari Hirata, publicado pela Publifolha, não é apenas um apanhado de receitas. Coletânea de colunas para a revista da “Folha”, a obra faz uma crônica de Tóquio.

A cada texto, ela acrescenta uma receita particular de pratos típicos japoneses. Nissei nascida em São Paulo, Hirata foi ao Japão com 24 anos para estudar a doçaria local. E ficou.

O que se lê ultrapassa o prazer gastronômico. Ela escreve sobre restaurantes, mercados e dos costumes. No final, Mari acrescenta um pequeno glossário com termos japoneses para a culinária — de pratos e ingredientes, passando por processos.

Para completar, a apresentação é de Nina Horta. É uma verdadeira festa à la Babette.

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