A proposta desta coluna é indicar, a cada semana, três livros de um determinado tema. Livros que podem se agrupar em um assunto, uma expressão, uma ideia. E que fujam das listas dos mais vendidos e das resenhas publicadas com frequência em jornais, revistas e blogs.
Nesta semana, indico três obras da literatura argentina, de diferentes períodos e autores com propostas bem diversas.
O Caminho de Ida
Último romance do escritor Ricardo Piglia, morto no início de 2017, “O Caminho de Ida” (Companhia das Letras) é um tratado sobre a paranoia dos Estados Unidos. Aqui, o autor retoma seu alter ego Emilio Renzi, professor que vai a uma universidade norte-americana ministrar um curso a convite da chefe do departamento de literatura, Ida Brown. Em sua vida pacata na pequena cidade onde está instalado, surgem pequenas desavenças que culminam na morte de Ida.
Entre política, crimes e conspirações, Piglia constrói um romance profundo, que antecipa em alguns anos o que estamos vendo atualmente, sem falar que faz uma interpretação das mais instigantes do que acontecia até então.
A Sinagoga dos Iconoclastas
O escritor Juan Rodolfo Wilcock imagina a vida de 36 personagens e perfila cada um deles, em uma série de retratos que têm em comum o apoio em questões científicas e discliplinas bem estruturadas. O autor promove, em “A Sinagoga dos Iconoclastas” (Rocco), uma espécie de resgate da história desses personagens esquecidos de toda a parte do mundo.
Joca Reiners Terron, organizador da coleção, define o trabalho do escritor desta forma no posfácio: “A plausabilidade existente no grotesco para testar os limites tênues entre a ciência e a loucura através da arte”. O que Wilcock fez foi criar um universo mais vigoroso, raivoso e recheado de discussões que superam os perfis imaginados.
Segundos Fora
O escritor Martín Kohan une boxe, jornalismo, música clássica e crime em “Segundos Fora” (Companhia das Letras). Em 1923, uma luta de boxe foi decidida por causa de um erro do juiz, que se perdeu na contagem do tempo. O lutador que estava na lona se levantou e venceu o combate. O fato se tornou marcante para a história de Trelew, na Patagônia, terra do argentino que viu a chance de ser campeão escapar. Cinquenta anos depois, o jornal local prepara uma edição comemorativa.
Kohan vai cruzando as histórias da luta e de um concerto no Teatro Colón, reconfigurando os fatos e as memórias das pessoas. Um crime será o responsável por unir esses dois fatos, a princípio distantes. Mais. O autor argentino faz um belo retrato de época, ao descrever o início do século 20 e seus personagens. Como pano de fundo, retrata Trelew, o local do massacre de 19 guerrilheiros em 1972.
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