Árvore mais antiga do mundo ameaçada por rodovia

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Gran Abuelo, talvez a árvore mais antiga do mundo, com cerca de 5.400 ano. Foto - Gonzaga Zúñiga Solis - Parque Nacional Alerce Costero
Gran Abuelo, talvez a árvore mais antiga do mundo, com cerca de 5.400 ano. Foto - Gonzaga Zúñiga Solis - Parque Nacional Alerce Costero

A Gran Abuelo, uma árvore milenar que resiste há mais de 5,4 mil anos no sul do Chile, talvez a mais antiga do mundo, está em risco. Um projeto de construção de uma rodovia pode colocar fim à vida da mais antiga árvore conhecida do planeta, além de causar danos irreversíveis ao ecossistema do Parque Nacional Alerce Coster

O projeto governamental, que propõe reabrir uma antiga estrada madeireira, volta a ser discutido depois de anos de controvérsias. A justificativa oficial é conectar cidades e incentivar o turismo local. Porém, cientistas e ativistas ambientais alertam: o verdadeiro objetivo seria facilitar o transporte de madeira e outros recursos naturais, como o lítio.

A rodovia, segundo especialistas, ameaça diretamente o habitat de milhares de árvores da espécie Fitzroya cupressoides, também conhecidas como alerces ou ciprestes da Patagônia. Dentre elas está a Gran Abuelo, um símbolo de resistência e de valor científico inestimável.

Guardiã do clima e testemunha da história

A Gran Abuelo não é apenas uma árvore antiga. Ela é uma relíquia viva. Estima-se que tenha mais de 5.400 anos, o que a tornaria a árvore mais velha já registrada, superando até mesmo o famoso pinheiro das Montanhas Brancas, nos Estados Unidos. A árvore foi descoberta em 1972 por Aníbal Barichivich, avô do atual pesquisador chileno Jonathan Barichivich, que lidera os estudos sobre a região.

Mas devido ao seu tronco extenso e parcialmente deteriorado, a idade da Gran Abuelo foi determinada por meio de modelos estatísticos, e não pela contagem tradicional de anéis. A ciência, mesmo assim, reconhece sua importância como testemunha do tempo e como fonte de dados valiosos para entender o clima da Terra ao longo dos milênios.

As árvores da espécie alerce são altamente sensíveis às mudanças climáticas. Cada anel de crescimento contém informações sobre temperaturas, níveis de chuva e absorção de carbono. Com base nesses dados, pesquisadores como Rocio Urrutia conseguiram reconstruir registros climáticos que remontam a mais de 5.600 anos.

Essas árvores, além disso, são fundamentais para avaliar a resposta das florestas ao aquecimento global. Elas absorvem carbono da atmosfera, ajudando a frear o avanço das mudanças climáticas. Perder esse ecossistema significaria eliminar uma das ferramentas naturais mais eficazes de combate à crise climática.

Comunidade e ciência contra a destruição

O avanço do projeto rodoviário provocou forte reação da comunidade científica e de movimentos ambientais. Em uma carta publicada na revista Science, cientistas denunciaram os impactos do projeto e pediram sua suspensão imediata.

Grupos locais, como o Movimento pela Defesa do Alerce Costero, também se posicionaram contra. Eles alertam que a construção pode causar a morte de 850 alerces e comprometer o habitat de mais de quatro mil árvores adicionais. A região já enfrenta o risco crescente de incêndios florestais, agravado pela proximidade com rodovias — um fenômeno comum em diversos pontos do planeta, como a Amazônia e os Estados Unidos.

Jonathan Barichivich e sua família estão na linha de frente da resistência. Sua mãe realiza há anos um trabalho contínuo de coleta de dados na floresta, contribuindo para o que pode se tornar o maior conjunto de dados ambientais do Hemisfério Sul.

A pressão popular e acadêmica surtiu efeito: o governo recuou temporariamente do projeto. Os riscos permanecem, no entanto, e a luta para preservar a Gran Abuelo, talvez a árvore mais antiga do mundo, continua.

Essa árvore não representa apenas um recorde de longevidade. Ela é símbolo da urgência de se proteger o meio ambiente em um momento em que cada decisão política pode afetar o futuro climático do planeta.


Com informações do site DW

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