Plástico japonês se desfaz no mar e acaba com microplásticos

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Pesquisadores japoneses criaram um plástico biodegradável que se desfaz na água salgada. Foto: Divulgação/RIKEN
Pesquisadores japoneses criaram um plástico biodegradável que se desfaz na água salgada. Foto: Divulgação/RIKEN

Pesquisadores do Centro RIKEN para Ciência da Matéria Emergente (CEMS), no Japão, deram um passo significativo na luta contra a poluição dos oceanos. Eles desenvolveram um novo tipo de plástico biodegradável que mantém a resistência dos plásticos convencionais, mas com uma vantagem crucial: ele se desfaz completamente em água salgada, sem deixar qualquer vestígio de microplásticos.

Os microplásticos que invadem mares e oceanos se tornaram um gigantesco problema ambiental. De acordo com estudos recentes do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), cerca de 1,5 milhão de toneladas por ano já chegam aos oceanos diretamente na forma de microplásticos primários (aqueles que já são pequenos ao serem descartados, como microesferas de cosméticos, fibras sintéticas e partículas de pneus).

A descoberta desse novo plástico surge, portanto, como uma solução promissora para um dos maiores problemas ambientais do século. A inovação foi possível graças à criação de um polímero supramolecular, feito com compostos facilmente encontrados, como o hexametafosfato de sódio — um aditivo alimentar — e íons de guanidínio, comuns em fertilizantes e condicionadores de solo.

O diferencial dessa combinação está na formação de pontes salinas, que oferecem alta resistência mecânica ao material, mas se desfazem rapidamente em ambientes salinos. Em contato com a água do mar, essas ligações se quebram, fazendo com que o material se dissolva em aproximadamente 8 horas e meia, conforme comprovaram os experimentos de laboratório.

Sustentabilidade sem abrir mão da eficiência

Foto: Divulgação/RIKEN
Foto: Divulgação/RIKEN

Ao contrário do que se pensava anteriormente sobre plásticos supramoleculares — vistos como fracos ou instáveis —, o novo material desenvolvido pelo time liderado pelo cientista Takuzo Aida demonstrou ser robusto, seguro e multifuncional. Além disso, é reciclável, incolor, transparente e não inflamável, o que amplia significativamente suas possibilidades de aplicação, desde embalagens até utensílios descartáveis e componentes industriais.

Mais do que uma inovação tecnológica, esse material representa um marco na busca por alternativas sustentáveis ao plástico derivado do petróleo. Os monômeros usados em sua composição podem ser metabolizados por bactérias, garantindo a completa biodegradação dos resíduos após a dissolução.

Em declaração oficial, Takuzo Aida destacou o papel ambiental da inovação. Segundo ele, “criamos uma nova família de plásticos que são fortes, estáveis e, o mais importante, não geram microplásticos”. O cientista também fez um alerta: para que essa e outras tecnologias sustentáveis tenham impacto real, é necessário que governos, indústrias e centros de pesquisa trabalhem em conjunto e adotem medidas efetivas. Caso contrário, a produção de plásticos e as emissões de carbono associadas podem dobrar até 2050, agravando ainda mais a crise ambiental.

Com a pressão crescente para reduzir os danos ambientais causados pelo plástico, soluções como essa desenvolvida no Japão são um sopro de esperança. Elas mostram que é possível conciliar inovação, funcionalidade e sustentabilidade. Se adotado em escala global, esse novo tipo de plástico pode ser um divisor de águas no combate à poluição marinha — e um grande aliado na preservação dos nossos oceanos.

Impacto devastador

Os microplásticos têm causado um impacto devastador nos ecossistemas marinhos, afetando diretamente a vida de milhares de espécies aquáticas. Essas pequenas partículas, com menos de 5 milímetros, resultam da degradação de plásticos maiores ou são liberadas intencionalmente em produtos como cosméticos e tecidos sintéticos.

Uma vez no oceano, são facilmente ingeridas por peixes, moluscos e aves marinhas, interferindo na digestão, na reprodução e até levando à morte desses animais. Além disso, os microplásticos atuam como esponjas químicas, absorvendo poluentes tóxicos presentes na água e introduzindo essas substâncias na cadeia alimentar — o que pode, inclusive, atingir os seres humanos. O acúmulo contínuo de microplásticos ameaça a biodiversidade, compromete a qualidade da água e representa um dos maiores desafios ambientais da atualidade.

Estima-se que entre 8 e 10 milhões de toneladas de plástico entrem nos oceanos todos os anos, e uma parte significativa desse volume acaba se transformando em microplásticos. Esse número tende a crescer, considerando o aumento global no consumo de plásticos e a falta de sistemas de coleta e tratamento adequados.

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