Cada um se diverte como pode, né mesmo? No meu caso, o playground é a cozinha. Gosto de preparar pratos raiz. Vez ou outra me arrisco. Aí vou além do trivial. Não se animem. Por aqui, combinações inusitadas são raras. De vez em quando dou uma variadinha de leve. Tipo uma salada de folhas verdes com maçã e erva doce.
– Uai! Que eu saiba erva-doce é pra fazer chá.
É pra chá, sim. Alivia a azia e a dor de barriga. Mas vai muito bem em bolos, biscoitos e, até mesmo, salgados. Dá um toque especial.
Voltando ao “x” da questão, confesso que inovar na cozinha é uma experiência arriscada. Nem sempre o novo agrada às bocas nervosas das casas de mineiro. A nossa cheira a pão de queijo, a bolo, biscoito, carne de porco, taioba, linguiça, couve, feijão tropeiro, arroz bem soltinho.
E num é que essa prosa toda me lembrou de um certo Natal em que resolvi inovar na sobremesa? A ideia era rechear o panetone com sorvete. Se deu errado? Um desastre. Virou piada pronta na família. Sabe aquela do pavê? “É pra ver ou pra comer?” Pois, então! Igual. Todo Natal é a mesma coisa.
– E ai, Tia Gisele? Na ceia deste ano vamos ter panetone com sorvete?
Nunca mais. E sobre o cardápio do Natal? Por aqui esse é um assunto importante. Começamos a falar sobre o tema meses antes. Discussão inútil, porque, no fim das contas, o cardápio já está pronto a gerações: arroz de forno, pernil, tutu de feijão, farofa e uma saladinha verde que é pra dar a impressão que também temos um lado fitness.
Fico aqui matutando. E se a Alice e o seu Gato frequentassem a nossa cozinha?
Na obra de Lewis Carrol a Alice pergunta ao Gato:
– Percebo a Primavera, pelas flores, pelas cores ou pelos odores?
Ai o Gato responde:
– Percebo pelo sorriso que tenho, mesmo que esteja invisível.
Eu duvideodó que depois de comer, por exemplo, o nosso bolo de milho com queijo minas o Gato da Alice conseguiria manter esse tal de sorriso invisível. Bota logo um carão aí, Gato da Alice!
Por falar em bolo, essa receita é a queridinha do Beto. Sempre faço. Mas não basta que seja de milho com queijo. Há que ser assado em tabuleiro. Até posso ouvir o João Cabral dizer:
– Ihh, Gisele! Vai usar esse tabuleiro? Já passou da hora de jogar fora. Tá bem destruidinho.
-Tá, sim. Também pudera, né? Já foi morada de muito bolo, de milhares de biscoito e de muito pão de queijo.
No frigir dos ovos, o Padre Adriano é que está certo. Em uma de suas memoráveis celebrações dominicais o nosso antigo pároco resumiu com muita sabedoria essa prosa toda.
– A mesa é uma oportunidade para o exercício da fraternidade, da promoção da partilha e da humildade verdadeira.
Que assim seja! Que nos irmanemos e nos alimentemos de amor uns pelos outros.
É por isso que cozinho. É por isso que sou feliz entre as panelas, formas e tabuleiros (mesmo que alguns estejam bem destruidinhos). No fim das contas o que importa é o amor que sentimos uns pelos outros. Cada um à sua maneira. Eu cozinho e compartilho a comida. E segue o baile (ou seria banquete?)
Indo. Fiquem bem. Até mais.
Ah, hoje tem receita. A do bolo do Beto, é claro. Faça e depois me conte se ficou bom.
Bolo de milho
Ingredientes:
3 ovos
1 xícara de óleo
2 xícaras de açúcar
1 lata de milho em conserva (com líquido junto)
2 xícaras de trigo
1 colher de fermento
Queijo picado em pedaços não muito pequenos.
Modo de fazer.
Em um liquidificador, adicione os ovos, óleo, açúcar e milho; bata até formar um líquido homogêneo.
Posteriormente, adicione o trigo peneirado e bata novamente – o fermento deve ser o último ingrediente a ser adicionado para que o bolo não fique amassado. Despeje em um tabuleiro ou forma. Antes de levar ao forno espete pedaços do queijo.
Pronto, leve para o forno pré-aquecido em 180 graus por cerca de 40 minutos. Espete com um palitinho. Se sair limpo tá pronto.
Difícil de acreditar que o o panetone com recheio não tenha dado certo…😁, acredito que alguém, não digo o nome de jeito nenhum, foi abençoada com mãos divinas!
Obrigada pela receita e pelo tempo gasto com suas crônicas.Sao ótimas!
Quem lhe agradece sou eu, minha querida, por me honrar com sua leitura.