A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) vai iniciar os testes em humanos da vacina brasileira contra a Covid-19 a partir de março. Conforme previsão do Centro de Tecnologia em Vacinas (CT-Vacinas) da instituição, o imunizante deve estar pronto para aplicação em massa no prazo de um ano.
Os cientistas responsáveis pela produção da vacina vão realizar, em princípio, testes em 40 pessoas nessa fase 2. A intenção é avaliar se o imunizante será capaz de induzir uma reação do sistema imune, como produção de anticorpos contra o novo coronavírus. Além disso, essa fase servirá para avaliar a segurança do imunizante.
“Esse processo vai ser um marco histórico. E será replicado a outros processos, para que o Brasil tenha independência nessa área estratégica, que é a vacinação da população”. É o que explica Ana Paula Fernandes, coordenadora do CT-Vacinas da UFMG.
A pesquisadora conta que o grande diferencial desse imunizante é que os insumos necessários para a sua produção serão nacionais. Especialmente o Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA). Daí poder chamar a vacina Raiz de 100% brasileira.
A Fiocruz, por exemplo, que está produzindo a vacina de Oxford e AstraZeneca, não consegue acelerar a produção porque depende do IFA que vem da China. Isso dá a dimensão da importância da produção do insumo no Brasil, para que o país não fique dependente de outras nações.
Terceira fase: 20 mil testes
A primeira fase do estudo da vacina brasileira começou em fevereiro de 2020. A pandemia do novo coronavírus tinha acabado de chegar ao Brasil. Nessa etapa, que custou R$ 5 milhões, financiados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, foram realizados testes em camundongos.
A fase 2 vai custar R$ 30 milhões. Parte desse recurso será usado para preparar os laboratórios da Fundação Ezequiel Dias (Funed) para a produção do imunizante em escala industrial.
Na fase 3, a vacina será aplicada em 20 mil pessoas. É nessa fase que se avalia a eficácia do imunizante. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que um imunizante, para ser usado em grande escala, deve ter uma eficácia mínima de 50%.
A vacina chinesa Coronavac, por exemplo, que está sendo usada no Brasil, tem eficácia de 50,45%. Entretanto, ela provou que é 100% eficiente para evitar casos graves da doença e mortes.
A vacina de Oxford, por outro lado, tem eficácia de 63%. Mas, igualmente, demonstrou ser também 100% eficaz para reduzir mortes e casos graves da Covid-19. Esse aspecto é considerado fundamental, uma vez que a redução dos casos graves diminui a pressão sobre o sistema de saúde.
De acordo com a professora Ana Paula Fernandes, a fase 3 tem custo estimado de R$ 100 milhões. A pesquisadora conta também que cada etapa da pesquisa está sendo informada à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Isso significa que tão logo sejam finalizados os testes em larga escala, sua aprovação pela agência deverá ocorrer de forma mais rápida.