Seus principais instrumentos de trabalho são motivação, criatividade, disposição, empatia, generosidade e uma boa quantidade de sucata que encontra, juntamente com seus alunos, nas ruas do bairro Cidade Leonor, na zona Sul de São Paulo. Com o projeto que desenvolve na escola municipal Almirante Ary Parreiras, que está transformando a realidade do bairro e a vida de centenas de jovens, a professora Débora Garofalo disputa no domingo (24-03), em Dubai, o “Nobel da Educação”.
Graças ao seu projeto “Robótica com sucata promovendo a sustentabilidade”, que ela desenvolve na escola municipal onde trabalha com cerca de dois mil alunos, Débora é uma das dez finalistas do Global Teacher Prize (“Prêmio Professor Global”, em tradução literal), que reconhece os professores que realizaram as maiores contribuições à sua profissão e promove a troca de ideias entre educadores do mundo inteiro. É a primeira vez que uma mulher brasileira é finalista do Teacher Prize.
“Fico muito feliz por estar quebrando paradigmas: sou uma mulher mexendo com tecnologia e sucata e o mundo está reconhecendo o nosso trabalho e que ele pode ser replicado”, disse a professora ao site Nova Escola, onde é colunista.
Valorização
Se ganhar, Débora receberá um prêmio de US$ 1 milhão (o equivalente a R$ 3,7 milhões), que pretende usar integralmente em escolas públicas de periferia pelo país afora. Mais importante que a premiação, segundo a professora, sua indicação é uma oportunidade para repensar as práticas de sala de aula e também o modo como as políticas públicas são definidas.
“É uma oportunidade para ver que os professores podem contribuir com as políticas públicas, para repensar a valorização docente no país e olhar com mais carinho para o trabalho do professor em sala de aula”, afirmou ela ao Nova Escola.
Formada em Letras e Pedagogia, mestranda em Educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), Débora desenvolve seu trabalho na escola municipal na periferia de São Paulo desde 2015. Ela sai com os alunos recolhendo sucatas pelo bairro, onde o saneamento básico e a coleta de lixo são precários, para desenvolver o projeto de robótica.
Ao longo dos anos a professora e seus alunos conseguiram recolher mais de uma tonelada do lixo. Parte do que foi recolhido, principalmente o eletrônico, foi usado em sala de aula. A outra parte ou foi reciclada ou ganhou uma destinação correta.
Impacto social
Com a sucata, a professora e seus alunos criam diversos tipos de robôs e máquinas (a partir do aprendizado de robótica, mecânica e programação), que são apresentados pelos alunos não somente na escola, mas em grandes exposições, como a Bienal do Ibirapuera. “Não imaginava o impacto que este projeto poderia ter nas crianças”, conta Débora Garofalo.
Segundo ela, uma embalarem de suco, por exemplo, pode ser transformada em um helicóptero, e pedaços de papelão ganham nova utilidade em uma máquina de refrigerante. “Com essas criações, as crianças provam que a escola pode ser um local para gerar soluções de problemas reais”, observa a professora.
Os resultados não poderiam ser mais animadores. Houve uma redução de 93% na taxa de evasão, bem como uma redução de cerca de 90% na taxa de trabalho infantil entre os estudantes. Há também um impacto ambiental e até de saúde com o projeto criado pela professora. Ao mesmo tempo que saem pelas ruas recolhendo lixo a procura de sucata, os alunos conversam com os moradores sobre a importância do descarte adequado e consciente do lixo, tornando-se atores importantes para a transformação do bairro num lugar melhor para se viver.