A proposta desta coluna é indicar, a cada semana, três livros de um determinado tema. Livros que podem se agrupar em um assunto, uma expressão, uma ideia. E que fujam das listas dos mais vendidos e das resenhas publicadas com frequência em jornais, revistas e blogs.
Nesta semana, indico três livros que investigam os ataques de 11 de Setembro. São obras de não ficção, grandes reportagens que tentam entender a rede de acontecimentos que levou à tragédia que abalou os Estados Unidos e como aquela manhã mudou o país.
São leituras que ainda hoje, 17 anos depois, continuam a lançar luz sobre os ataques.
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102 Minutos, de Jim Dwyer e Kevin Flynn
Os repórteres do “New York Times” relatam a manhã daquela terça-feira, minuto a minuto, com transcrições de gravações, entrevistas e depoimentos. Eles nos colocam dentro das torres, por meio dos diálogos e de plantas do conjunto de edifícios, trazendo detalhes fundamentais para entender a tragédia.
“102 Minutos” (Zahar) é um livro difícil de ser lido por conta da dramaticidade e da força dos relatos. O objetivo é tratar do que aconteceu em Nova York naquele dia, por isso não há investigação sobre os terroristas, suas origens etc. Há, sim, um olhar sobre a comunicação entre os bombeiros, por exemplo, para identificar falhas na operação. É um título imprescindível e um documento histórico. Os 102 minutos do título equivalem ao intervalo de tempo entre o choque na primeira torre e o desabamento das duas.
O Vulto das Torres, de Lawrence Wright
Uma investigação sobre a Al-Qaeda e os serviços de inteligência dos EUA, é disso que trata este belo livro de Lawrence Wright. O jornalista traça a história do fundamentalismo islâmico, da década de 50 até chegar ao grupo terrorista e os ataques de 11/9.
Baseado em uma pesquisa minuciosa e em dezenas de entrevistas, o livro é um retrato claro de como se formaram os principais grupos terroristas, como vários crimes foram pensados e executados e quais as razões alegadas para o ódio.
Wright perfila Osama bin Laden e mostra como ele chegou a liderar a facção terrorista. Vai fundo nas relações entre os países do Oriente Médio, a dependência do petróleo e como a invasão ocidental, seja da Inglaterra, da ex-União Soviética ou dos EUA, no Iraque, Afeganistão e em outros países da região acabaram por moldar um caráter maniqueísta.
Simultaneamente, Wright destrincha a burocracia dos serviços de inteligência dos EUA, que acabou por prejudicar o trânsito de informações das investigações sobre os terroristas.
O livro é uma peça jornalística de primeira e, recentemente, virou série.
Cadeia de Comando, de Seymour M. Hersh
O livro traz ampliações de reportagens que o jornalista escreveu para a revista “The New Yorker” sobre as guerras que os Estados Unidos assumiram no governo George W. Bush. Hersh foi o primeiro jornalista a escrever sobre as torturas de Abu Ghraib.
É também um dos maiores profissionais dos Estados Unidos, com trabalhos premiados sobre a Guerra do Vietnã. Hersh desvenda segredos políticos envolvendo o setor militar do governo, remonta o caso das torturas e revela como se Bush e companhia prepararam uma armadilha no Iraque. “Cadeia de Comando” (Ediouro) é uma aula de jornalismo e um retrato vivo dos Estados Unidos.
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