- Gisele, será que a janela dormiu aberta? Hoje, quando acordei, estava escancarada.
- Não sei, Denise. Quando passei pela sala já estava assim. Aberta de canto a canto.
Esse diálogo lhe causou alguma estranheza?Aposto que não. Na sua família, certamente, muita gente se refere à janela ou à porta da mesma forma. Mas janela “dorme”? E porta? Na sua casa as paredes têm ouvidos? Obviamente que não.
Quem vem de fora não vai entender. Mas que essas expressões são fofas, ah, isso são.
Fofo também é você chamar o fubá de “mimoso”, o doce de abacaxi com coco de “amor aos pedaços” e de “sonho” o pãozinho doce recheado. Há também expressões que à primeira vista não fazem sentido algum. Exemplos? Bora fazer uma vaquinha pra ajudar. Não vai dar outra. Aposto que isso vai acabar em pizza. E não adianta chorar pitangas porque você não tem razão. Lembrando que esse moço é o próprio arroz de festa. Não perde uma. E o que dizer daquele seu amigo da onça? E ele ainda é chato de galocha.
Ah, uma pergunta que não quer calar: você já saiu à francesa? Já esteve com o pai na forca? Conhece alguém que mora onde Judas perdeu as botas? Já fez promessa pra inglês ver?
Não vou me alongar, mas há inúmeras outras expressões e palavras com duplo sentido, que deixariam qualquer turista de cabelo em pé.
E não é só isso. Muitos alimentos mudam de nome, de região para região. Mexerica é um dos exemplos mais conhecidas. Se você estiver no Sul não estranhe se alguém chamar a fruta de bergamota; no Nordeste a mesma fruta é conhecida como laranja-cravo ou mimosa. E a mandioca que no Rio de Janeiro e em algumas regiões do Nordeste é chamada de aipim ou macaxeira? Já o pão nosso de cada dia, aqui em Minas, é pão francês que de francês não tem nada; no Rio Grande do Sul e na Bahia é chamado de cacetinho (ops!). Há também quem o chame de pão carequinha ou pão de sal.
Imagine que você é americano, francês ou alemão e está no Brasil para visitar um amigo
E assim que chega, conversa vai, conversa vem, esse amigo diz:
- Ah, liga, não. Aquele cara viaja na maionese.
Oiêee! Afinal, o que isso quer dizer? Esse tal cara gosta ou não gosta de viajar? E o que a maionese tem a ver com essa história toda?
- Minha nossa! É difícil mesmo de entender. Me desculpe.
- Minha nossa? O que é “minha nossa”?
E essa conversa de malucos vai fluindo entre trancos e barrancos (ops!), até que um mineiro entra na conversa. E com o “mineirês” é que o caldo entorna de fato.
- Bão!!!
- ????
- Uai, acho que num tá bão, não! Ninguém responde.
- Heim?
- Se ocês não conseguem entender isso, mió largá pra lá.
Hora de ir, mas antes, algumas curiosidades: “fazer uma vaquinha” originou-se na torcida do Vasco. Nos anos 1920, para ajudar os jogadores, os torcedores arrecadaram dinheiro baseados no jogo do bicho. A vaca, número 25, era o prêmio mais cobiçado. “Pra inglês ver” remete a uma lei ineficaz de 1831, criada como fachada para os ingleses sobre o tráfico negreiro. “As portas têm ouvidos” pode ter vindo de Catarina de Médicis, que espionava conversas por meio de furos nas paredes. E “amigo da onça”, expressão genuinamente brasileira, foi inspirada em um personagem de quadrinhos de Péricles de Andrade Maranhão, conhecido por trair a confiança dos amigos.
Agora eu vou mesmo. Até mais!
Por isso a menina inglesa filha de uberabense reclama do mineirês e faz sucesso na rede social.
Ela é um encanto, né? Adoro os vídeos.
Que crônica fantástica! Dei boas risadas!!!! Ótima maneira de começar uma segunda-feira.🤗
Obrigada, minha querida! Essa também é a intenção. Beijo pro cê.
Minha querida, só que a chamada foi para correr os olhos rsrsrsrsrsr infelizmente nos seus textos não dá. Pois tem que ler como se estivesse saboreando as letras rsrsrsrsrsr. Parabéns duplo hoje!
Que coisa mais linda! Só mesmo quem tem olhos amorosos para me dizer isso. Encantada. Beijo pro cê.