
O Instituto Butantan está desenvolvendo uma vacina inovadora contra a gripe aviária. O imunizante tem como alvo o vírus H5N1, causador de surtos letais em aves e com potencial pandêmico em humanos. A instituição paulista aguarda autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar os testes clínicos em humanos. O pedido foi enviado no final de abril de 2025.
Desde 2023, a gripe aviária tem gerado preocupação mundial. Diversos países registraram infecções humanas esporádicas. Nos Estados Unidos, por exemplo, três trabalhadores rurais testaram positivo em maio deste ano. Ainda que os casos tenham sido leves, os riscos de mutações do vírus acendem o alerta global.
A vacina do Butantan é baseada em tecnologia de vírus inativado, a mesma utilizada na produção da vacina contra a gripe sazonal. Essa escolha acelera o desenvolvimento, pois aproveita a expertise e infraestrutura já existente no instituto. Além disso, facilita uma possível produção em larga escala.
Segundo a diretora de inovação do Butantan, Ana Marisa Chudzinski-Tavassi, os testes em humanos devem começar imediatamente após o aval da Anvisa. O cronograma prevê a aplicação da vacina em cerca de 300 voluntários saudáveis, em um estudo clínico de fase 1. Se os resultados forem positivos, a próxima etapa incluirá mais participantes e análise de eficácia.
A pesquisadora ressalta que o Brasil precisa estar preparado. “É uma questão de soberania sanitária. Precisamos antecipar uma possível crise, como aprendemos com a Covid-19”, afirma.
Preparação é fundamental diante do risco pandêmico
Embora o número de infecções humanas ainda seja limitado, a gripe aviária preocupa pela sua taxa de letalidade elevada. Desde 2003, mais de 860 casos foram confirmados em humanos, com mortalidade superior a 50%, segundo a OMS. Por isso, especialistas defendem a produção preventiva de vacinas.
Além disso, a circulação do vírus em mamíferos aumenta o risco de adaptação ao organismo humano. Recentemente, surtos em leões-marinhos e outros animais silvestres mostraram que o H5N1 está se tornando mais versátil.
Diante desse cenário, a iniciativa do Instituto Butantan ganha relevância estratégica. O Brasil poderá não apenas proteger sua população, mas também atuar como fornecedor de vacinas para países da América Latina e África, caso uma emergência global se confirme.
Com o avanço da pesquisa e o possível início dos testes clínicos, o país dá um passo importante para ampliar sua autonomia científica e proteger a saúde pública. A expectativa é que a Anvisa aprove o pedido nas próximas semanas, abrindo caminho para uma nova etapa no combate à gripe aviária.
20 vacinas já aprovadas no mundo
Vinte vacinas contra o vírus da gripe aviária já foram aprovadas para uso em humanos em diferentes partes do mundo, segundo relatório publicado na revista científica The Lancet. A maioria dessas vacinas usa plataformas de vírus da gripe inativadas e é produzida a partir de ovos de galinha. Todas as vacinas seguem um esquema de aplicação de duas doses.
Os imunizantes estão armazenados para uso estratégico em países como Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Japão, China, França, Bélgica, Finlândia, Austrália e membros da União Europeia. Até setembro de 2024, apenas a Finlândia havia iniciado um programa de vacinação contra o H5N1 voltado a grupos de risco.
Com informações do G1 e revista The Lancet