Humanidade revelada nos sapatos

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Papa Francisco - Foto - Vatican News
Papa Francisco - Foto - Vatican News

Ando muito comovida com o retorno do Papa Francisco à casa do Pai. Um sentimento que não é exclusividade minha. A partida desse nosso querido pastor de almas gerou uma comoção planetária.
Mas por que me sinto assim? Afinal, esse não foi o primeiro papa que vi retornando ao colo de Deus. Ao longo da minha vida testemunhei a liderança e a finitude de diversos Papas. Desde Pio XII, que guiou a Igreja durante tempos de guerra, até Francisco, que trouxe uma nova abordagem pastoral e social ao papado, cuja trajetória papal reflete mudanças profundas na sociedade e na fé.

João XXIII e Paulo VI impulsionaram o Concílio Vaticano II, renovando práticas e perspectivas da Igreja. João Paulo I teve um breve, mas significativo pontificado, seguido por João Paulo II, que marcou a Igreja com seu carisma e influência global. Bento XVI trouxe reflexões profundas sobre teologia e tradição, e, por fim, Francisco, que promoveu uma visão mais inclusiva e focada em justiça social. Cada um, a seu modo, ajudou a moldar o mundo de formas distintas, refletindo desafios e esperanças de cada época.

Essa jornada espiritual e histórica certamente influenciou muitas gerações, incluindo a minha.
Mas, confesso que Francisco me tocou de maneira especial. Carlos Bezerra Júnior talvez seja quem melhor traduziu esse meu encantamento. Em um vídeo comovente, o pastor que também é médico, destaca que Francisco não deixou monumentos e nem estátuas. Ficaram as pegadas. Como seu último gesto Francisco pediu para ser sepultado com os seus sapatos gastos, traduzindo assim toda a sua humanidade:

”O Cristianismo professado pelo Papa Francisco se revela no simples, atitude que remete à Romanos, capitulo 10, versículo 15: “Formosos são os pés que anunciam as boas novas”. Ou seja, não se trata da aparência. Tem a ver, sim, com a história que os pés carregam. “Os pés que anunciam o Evangelho se gastam, se sujam. Vão até onde o amor precisava chegar. Francisco não deixou estátuas, deixou pegadas”.

Movida pela curiosidade sobre a vida dos papas, em outra incursão pelas redes sociais, li um texto assinado pelo sempre brilhante Eduardo Machado. O professor nos deixa com uma pulga atrás da orelha ao relatar que a atuação de Pio XII durante a Segunda Guerra Mundial permanece como uma das maiores polêmicas da Igreja Católica. Afinal, o silêncio dele foi estratégico ou o Papa pecou pela omissão?
Eduardo Machado lembra que antes de ser papa, Pacelli foi núncio na Alemanha, o que, posteriormente, gerou acusações de colaboração com o regime nazista. O pontífice publicou 40 encíclicas; oito delas durante a guerra. Em nenhuma havia qualquer menção direta ao extermínio dos judeus e de outras minorias.

Sobre Pio XII há outra curiosidade, essa mais escatológica. Li no G1 que o Papa Pio XII faleceu aos 82 anos devido a uma parada cardíaca. Seu médico, Riccardo Galeazzi-Lisi, envolveu-se em escândalos ao vender fotos do papa recebendo oxigênio e ao utilizar um método experimental para preservar seu corpo, envolvendo-o em óleos, ervas e celofane. No entanto, o processo falhou, resultando na rápida deterioração e inchaço do cadáver. Durante o traslado para a Basílica de São Pedro, o corpo sofreu uma explosão devido à acumulação de gases, exigindo reparos emergenciais antes da exibição pública. Galeazzi-Lisi, considerado irresponsável por suas ações, foi expulso do Vaticano antes do conclave que elegeu João XXIII, e sua técnica nunca mais foi usada em outro pontífice. O médico faleceu em 1968, testemunhando ainda o funeral bem-sucedido de João XXIII.

Histórias papais à parte, rezo pelo reconhecimento da santidade de Francisco. E antes que alguém venha dizer que a santificação está banalizada, que será só mais um santo, que há santos demais, você tem ideia do que é ser santo de fato? Os santos e santas são uma ponte para o divino. E se estão ao lado do Pai é por merecimento. E mais, a santidade não é prerrogativa só de alguns. É um dom oferecido a todos. Não exclui ninguém. Todos podemos ser santos. Para isso, basta que nos espelhemos em Deus, à sua imagem e semelhança. Praticando o bem, vivendo em paz, amando o próximo. Tudo isso, traduzido em pequenos atos, nos “separa”, nos reveste de santidade e nos torna próximos ao Criador.

“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força. Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.

1 COMMENT

  1. Texto repleto de fatos interessantes! Confesso que não conhecia muitos! Obrigada por compartilhar-lo

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