Evidências crescentes apontam para a eficácia do canabidiol (CBD), um componente não psicoativo da cannabis, no tratamento de várias doenças em animais de estimação. O Dr. Chie Mogi, veterinário-chefe da Animal CBD Research Society no Japão, relatou casos de sucesso no uso do CBD para tratar desde dores e coceiras até convulsões em pets. Esses relatos foram documentados em diversas publicações veterinárias, fortalecendo a confiança no potencial terapêutico do CBD.
Relatórios positivos também surgem de ensaios clínicos mais rigorosos, incluindo estudos com placebos. “Isso foi emocionante para mim porque, honestamente, eu estava preocupado que, apesar da empolgação, o CBD não mostraria diferença quando estudado de forma mais objetiva”, afirma Stephanie McGrath, neurologista veterinária da Colorado State University, nos Estados Unidos. McGrath é coautora de uma revisão do uso de CBD para cães e gatos na Annual Review of Animal Biosciences de 2023.
Apesar das evidências ainda serem preliminares e da variabilidade nos ingredientes dos produtos, muitos cientistas estão otimistas sobre o potencial do CBD para expandir as opções terapêuticas para animais de estimação. Este otimismo é impulsionado pelas regulamentações mais flexíveis sobre a cannabis na última década, que abriram portas tanto para a indústria quanto para a pesquisa.
Em 2018, a Farm Bill dos EUA legalizou o cânhamo com até 0,3% de THC, permitindo que empresas comercializassem produtos consistentes com essa diretriz, incluindo suplementos contendo CBD. Desde então, a disponibilidade de produtos de cânhamo para animais de estimação aumentou significativamente. Estima-se que o mercado global desses produtos atingirá cerca de US$ 3 bilhões até 2025.
Canabidiol em Animais
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O CBD não causa euforia, mas interage com vários receptores no cérebro, o que justifica seus efeitos terapêuticos. Em cães e gatos, ele é processado mais lentamente do que em humanos, prolongando seus efeitos. Joseph Wakshlag, veterinário da Universidade Cornell e diretor médico da ElleVet Sciences, uma empresa de canabidiol para animais de estimação, destaca que muitos proprietários utilizam o produto para tratar problemas como dor, sono, ansiedade e convulsões em seus animais.
Entretanto, há preocupações sobre a toxicidade da cannabis em animais. Doses acima de 0,5 miligramas por quilo podem ser tóxicas para cães. No entanto, a maioria dos medicamentos à base de Cannabis sativa para animais utiliza apenas o canabidiol (CBD), que não é tóxico.
Pesquisas indicam que o CBD pode beneficiar tratamentos de epilepsia, problemas articulares, dores, doenças cardiovasculares e respiratórias, além do câncer, principalmente em gatos e cães. As dosagens e efeitos podem variar em outras espécies de animais, exigindo mais estudos específicos.
Uso no Brasil
Veterinários ao redor do mundo estão se unindo para incorporar o uso de cannabis na prática veterinária convencional, promovendo educação, pesquisa e ativismo. No Brasil, por exemplo, a cannabis veterinária ainda enfrenta barreiras legais. A resolução RDC Nº 327 da Anvisa permite a fabricação, importação, comercialização e prescrição de cannabis apenas para uso medicinal humano. No entanto, veterinários podem prescrever tratamentos que considerem eficazes, e algumas brechas na legislação permitem que tutores recorram ao Judiciário para garantir o uso do CBD em seus animais.
Em 2023, a UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) obteve a primeira autorização judicial no Brasil para cultivar 120 sementes de uma variedade de cannabis rica em CBD. Esse cultivo, permitido apenas no campus do Grupo de Estudos em Produção Animal e Saúde, visa estudos focados na cannabis veterinária.
Portanto, o uso de CBD em animais de estimação está em ascensão, com evidências promissoras de sua eficácia no tratamento de diversas condições. Enquanto as regulamentações continuam a evoluir, a pesquisa e a aceitação do canabidiol na prática veterinária convencional estão crescendo, oferecendo novas esperanças para a saúde e o bem-estar dos nossos amigos peludos.
Com informações de agências