O sono das janelas e portas

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Imagem - Pixabay
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  • Gisele, será que a janela dormiu aberta? Hoje, quando acordei, estava escancarada.
  • Não sei, Denise. Quando passei pela sala já estava assim. Aberta de canto a canto.

Esse diálogo lhe causou alguma estranheza?Aposto que não. Na sua família, certamente, muita gente se refere à janela ou à porta da mesma forma. Mas janela “dorme”? E porta? Na sua casa as paredes têm ouvidos? Obviamente que não.

Quem vem de fora não vai entender. Mas que essas expressões são fofas, ah, isso são.
Fofo também é você chamar o fubá de “mimoso”, o doce de abacaxi com coco de “amor aos pedaços” e de “sonho” o pãozinho doce recheado. Há também expressões que à primeira vista não fazem sentido algum. Exemplos? Bora fazer uma vaquinha pra ajudar. Não vai dar outra. Aposto que isso vai acabar em pizza. E não adianta chorar pitangas porque você não tem razão. Lembrando que esse moço é o próprio arroz de festa. Não perde uma. E o que dizer daquele seu amigo da onça? E ele ainda é chato de galocha.
Ah, uma pergunta que não quer calar: você já saiu à francesa? Já esteve com o pai na forca? Conhece alguém que mora onde Judas perdeu as botas? Já fez promessa pra inglês ver?

Não vou me alongar, mas há inúmeras outras expressões e palavras com duplo sentido, que deixariam qualquer turista de cabelo em pé.
E não é só isso. Muitos alimentos mudam de nome, de região para região. Mexerica é um dos exemplos mais conhecidas. Se você estiver no Sul não estranhe se alguém chamar a fruta de bergamota; no Nordeste a mesma fruta é conhecida como laranja-cravo ou mimosa. E a mandioca que no Rio de Janeiro e em algumas regiões do Nordeste é chamada de aipim ou macaxeira? Já o pão nosso de cada dia, aqui em Minas, é pão francês que de francês não tem nada; no Rio Grande do Sul e na Bahia é chamado de cacetinho (ops!). Há também quem o chame de pão carequinha ou pão de sal.

Imagine que você é americano, francês ou alemão e está no Brasil para visitar um amigo
E assim que chega, conversa vai, conversa vem, esse amigo diz:

  • Ah, liga, não. Aquele cara viaja na maionese.

Oiêee! Afinal, o que isso quer dizer? Esse tal cara gosta ou não gosta de viajar? E o que a maionese tem a ver com essa história toda?

  • Minha nossa! É difícil mesmo de entender. Me desculpe.
  • Minha nossa? O que é “minha nossa”?

E essa conversa de malucos vai fluindo entre trancos e barrancos (ops!), até que um mineiro entra na conversa. E com o “mineirês” é que o caldo entorna de fato.

  • Bão!!!
  • ????
  • Uai, acho que num tá bão, não! Ninguém responde.
  • Heim?
  • Se ocês não conseguem entender isso, mió largá pra lá.

Hora de ir, mas antes, algumas curiosidades: “fazer uma vaquinha” originou-se na torcida do Vasco. Nos anos 1920, para ajudar os jogadores, os torcedores arrecadaram dinheiro baseados no jogo do bicho. A vaca, número 25, era o prêmio mais cobiçado. “Pra inglês ver” remete a uma lei ineficaz de 1831, criada como fachada para os ingleses sobre o tráfico negreiro. “As portas têm ouvidos” pode ter vindo de Catarina de Médicis, que espionava conversas por meio de furos nas paredes. E “amigo da onça”, expressão genuinamente brasileira, foi inspirada em um personagem de quadrinhos de Péricles de Andrade Maranhão, conhecido por trair a confiança dos amigos.

Agora eu vou mesmo. Até mais!

6 COMMENTS

  1. Minha querida, só que a chamada foi para correr os olhos rsrsrsrsrsr infelizmente nos seus textos não dá. Pois tem que ler como se estivesse saboreando as letras rsrsrsrsrsr. Parabéns duplo hoje!

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