Há poucos dias um mezzo amigo, mezzo irmão me perguntou:
- Como é mesmo o nome daquela moça que você vive citando?
- Quem, amado?
- Tô falando daquela moça que é a sua cara?
- Qual, GG? Me dê uma pista?
- Aquela que vê o lado positivo em tudo.
- Ah, a Pollyana!!
O Gegê não está errado. Na maior parte do tempo sou assim mesmo. Só que há situações que nem mesmo a Pollyana, nos seus melhores momentos, daria jeito. Agora, por exemplo, considere que dei um tempo. A Pollyana não tem dado o ar da graça.
- Uai, Gisele! Logo você? Uma pessoa tão otimista. Estou estranhando esse seu desencanto.
Quer saber? Também não tenho me reconhecido. Vai ver é coisa do meu signo. Como toda geminiana, sou uma mulher de fases. Tô inteira em Lua Adversa. O poema da Cecília Meireles é a minha mais perfeita tradução.
“Tenho fases como a lua.
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua…
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua…)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua…
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu…
Essa dai sou eu. Sujeito, verbo e predicado. Atualmente vivendo a fase de andar escondida. Signo à parte (aliás, não entendo nada de astrologia), a verdade é que a ausência de pessoas queridas anda pesando demais sobre os ombros. E vou lhe dizer. Para esse vazio não há palavra que traduza. Ou você conhece remédio, ortopedista ou fisioterapeuta que conserte asa quebrada, coração ferido e alma vazia?
Tive a sorte de ter nascido em uma família absolutamente incrível. Irmãos adoráveis, sobrinhos idem, avós amorosos, um pai doce como mel e a melhor mãe que alguém poderia desejar. Amorosa, rígida quando necessário, dona de casa perfeita, cozinheira de mão cheia, líder e educadora admiráveis, amiga, confidente, pessoa leal e necessária, a melhor companheira de viagem que alguém poderia desejar.
Bobo será Deus se não tiver se aproveitado de toda essa expertise de Dona Nely pra colocar ordem na casa Dele. Se o Pai a levou tão cedo é porque precisava dela nas pradarias celestes.
Ah, uma dica pro “chefão”:
- Deus, não se preocupe com os palavrões. São todos da boca pra fora. Mamãe é assim mesmo. Cria um palavrão por dia. Nesse caso, criatividade é mato. Só se divirta quando ela disser alguma barbaridade. Mamãe também é muito engraçada até quando a situação não permite.
Ah, dê um recado a ela. Diga para ficar bem. Que por aqui a gente continua segurando o tranco. E que tranco, viu? O Senhor sabe, né?
Mãe, deixa de ser boba. Sei que a senhora tá de ouvido em pé, ouvindo essa minha conversa com Ele. Então, vamos de papo reto, sem intermediários.
- Amada minha, eu te amo, viu? E isso é definitivo. De vez em quando peça ao seu parça aí de cima pra nos dar uma mãozinha por aqui. No mais, aproveite pra ler, cuidar dos jardins e das pessoas. A senhora é boa nisso. Fique com Deus. Epa! Que bobagem a minha. Esqueci que a senhora já está com Ele.
Ps: Beije o Papai, o Marcel, Guilherme e Osvadinho. Beije o Vovô e Vovó também. Ah, de vez em quando passeie pelos meus sonhos. Quem sabe assim a Pollyana volta a dar o ar da graça?
Que lindeza de crônica!!
O problema da Polyana não é o olhar positivo. É a ingenuidade de nunca perceber as contradições humanas, só ver o lado positivo. Melhor ficar com o Ariano do que pular o carnaval na Banda dos Contentes: “o otimista é um ingênuo, o pessimista, um chato. Melhor ser um realista esperançoso”. Como geminiana vc tem que conhecer mais o representante mor da raça, Fernando Pessoa. Como ele tinha todas as fases da Lua simultaneamente, criou 136 heterônimos pra se expressar na inteireza de suas contradições. Quanto às ausências vc já encarnou a etapa descrita por Drummond no poema AUSÊNCIA. Vamos andar com fé, que a fé não costuma faiá. Quem sabe a Polyana, que não seja o único heteronimo, volta! Beijo
“O problema da Polyana não é o olhar positivo. É a ingenuidade de nunca perceber as contradições humanas, só ver o lado positivo. Melhor ficar com o Ariano do que pular o carnaval na Banda dos Contentes: “o otimista é um ingênuo, o pessimista, um chato. Melhor ser um realista esperançoso”. Como geminiana vc tem que conhecer mais o representante mor da raça, Fernando Pessoa. Como ele tinha todas as fases da Lua simultaneamente, criou 136 heterônimos pra se expressar na inteireza de suas contradições. Quanto às ausências vc já encarnou a etapa
Epa! Conselho de amigo a gente tem que prestatenção, né mesmo! No 3,2,1 … Pulando pra fase da “realista esperançosa”. Pollyana que me perdoe, mas esse é o fim de uma ” amizade” de anos.
By, by, Polly! Vem comigo Ariano Suassuna que o Fernando Pessoa e o Drummond já estão por aqui. Não sei se dá pra perceber, mas é que eu não ando só. Só ando em boa companhia. Beijo pro cê, meu amigo querido.
Ei Gi, não tenho nada a dizer, seu amigo Marcus Pestana já disse tudo, uai… Então, minha querida, seja quem você quiser e fique feliz! Beijos!