Hoje o banquete é de flor de ipê

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Foto - Agência Brasil
Foto - Agência Brasil

Pensando aqui. Vou dar para comer flor de ipê que é pra florescer por dentro. Um dia minha alma estará amarela; em outros, rosa. Há dias em que ficará roxinha. Mas, haverá ocasiões – espero que frequentes – em que o branco será a cor da vez. Sonho com essa fase.

Aliás e a propósito, a floração dos ipês acontece em épocas distintas. Cada tipo tem uma época de florada. É no fim do inverno, entre a segunda quinzena de agosto até setembro, que surgem as flores amarelas, mas antes delas as flores roxas já deram o ar da graça. As brancas, raras, ficam para o final do ciclo. Papai espera com ansiedade que as amarelas caiam. Segundo ele, flor de ipê não cai na poeira. Se o chão fica amarelo é porque vem chuva por aí.

Mas voltando ao banquete de flores, a gente come flor de ipê? Diz a Patrícia Guimarães, do @senhoramesa, que sim. Ela aprendeu com o Guilherme, do blog @matosdecomer. Patrícia diz que a gente, além de admirar a beleza e a imponência da flor de ipê, também pode levar para casa e colocar na salada, enfeitar os pratos, empanar, fritar … fazer o que a imaginação mandar.
Acho que o ser humano aprendeu a comer flor de ipê com as aves. O Guilherme conta que essa flor é comida de passarinho. De várias espécies. Até mesmo daquelas que parecem estar “depredando” as árvores. Quer um exemplo? Periquitos e maritacas. Os danadinhos – meu Deus! Como são barulhentos! -, na verdade, estão ajudando na polinização. Eles estão certos. A flor do ipê deve ser mesmo uma delícia. Quem já comeu, como a Patrícia e o Guilherme, diz que o sabor é suavemente amargo.  E ainda tem um perfume adocicado e muito agradável.
Só que em se tratando de flores e árvores estou mais para contemplativa. Meu lado levemente pragmático (não se anime, é só um ladinho mesmo) é mais apegado às raízes culinárias das Minas Gerais, tipo o pão de queijo. Morro de amores.
A história dessa delicia é bem antiga. Tem origem lá pelo século XVIII. Naquela época, farinha de trigo era raridade. Assim, o jeito foi apelar para o polvilho. Aí alguém teve a ideia de escaldá-lo com banha de porco em ponto de fervura, juntar o queijo e o sal. Mágica!!! Eis que estava criado o nosso pão de queijo.
E como é que faz para o pão de queijo ficar macio por dentro e crocante por fora? Tem segredinhos. O maior deles, segundo a pesquisadora Vani Maria Pedrosa, é o queijo. “Ele precisa ser mineiro. Queijo de leite cru artesanal, que tenha aroma é o melhor. Tem que ser daqueles que quando assa, o cheiro invade a casa”.
E não é só isso. “O polvilho precisa de granulação média. Também precisa ser novo, porque farinha perde potencial de fermentação”, ensina a Vani.
Não acabou. Tem mais segredo por trás da gostosura. Alguém aí conhece a técnica de escaldo?  É quando você incorpora o líquido quente sobre a seco.
Por último, é só sovar adequadamente para que massa perca todos os grumos. É isso que traz maciez para a nossa iguaria.
Para acompanhar, o café é de lei. Mas pão de queijo também vai bem com chá, suco, refrigerante e com o que mais você quiser. Na hora de rechear, vale a criatividade. Tem gente que ama com linguiça. Euzinha aqui, por exemplo. Há também quem prefira com carne de panela, presunto, queijo, doce de leite, Nutella, brigadeiro …  No quesito recheio o céu é o limite. Basta deixar a imaginação voar. Depois, ahhhh depois!!! É só degustar, degustar e degustar, é claro!
Se tem receita? Tem, sim. Mas não é de prato com flor de ipê, não. É de pão de queijo messsmo. Da nossa família. Que é pra não perder o costume.


Pão de queijo
Ingredientes
• 1 kg de polvilho (usamos doce, mas você pode usar o azedo ou meio a meio)
•1 copo (americano) de água
•1 copo (americano) de leite fresco
•1 copo (americano) de óleo, falando um dedo para encher
•2 a 4 ovos caipiras ou mais dependendo do tamanho dos ovos
•Queijo Minas curado

Modo de fazer

Ferva junto o leite, água, o óleo e o sal.
Quando estiver fervendo, escalde o polvilho aos poucos e vá misturando a massa até que todo esse líquido esteja incorporado ao polvilho. Deixe esfriar.
Depois de frio vá acrescentando os ovos até que a massa grude entre os dedos. Aí é hora de acrescentar o queijo, amassar, enrolar as bolinhas nas mãos untada de óleo e colocar para assar na temperatura de 200 graus.

Dica 1: Não se esqueça de pré-aquecer o forno. No forno frio, os pãezinhos ficam disformes e com a casca mole. E não tenha medo de assar – o pão de queijo é mais dourado do que amarelo.

Dica 2: na Internet há uma infinidade de variações sobre o mesmo tema. Sugerem trocar o queijo minas por parmesão, provolone e queijo do reino. Só que se você trocar, terá que mexer nas proporções da gordura e do polvilho.

Busquei alguns exemplos para você no site do Paladar/Estadão.

Pão de queijo de parmesão: 200g de parmesão ralado fino; 200 g de polvilho azedo, 40 ml de óleo de girassol; 100 ml de água, 1 ovo e sal a gosto.

Pão de queijo de provolone: 200g de provolone ralado; 200 g de polvilho azedo; 100 ml de leite; 40 g de manteiga; 1 ovo e sal a gosto.

Pão de queijo de queijo reino: 200g de queijo reino; 200 g de polvilho doce; 100 ml de leite; 40 g de manteiga; 1 ovo e sal a gosto.

Faça e depois me conte. Curiosa aqui

1 COMMENT

  1. Uau, adorei a crônica! O primeiro parágrafo é de uma delicadeza ímpar! Os ipês encantam minha alma. E as receitas são dos Deuses! Obrigada 😊

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