Método da UFV pode resolver desastre ecológico no Nordeste

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O menino Everton Miguel dos Santos ajuda na limpeza da praia Itapuama, em Cabo de Santo Agostinho (PE). Foto Leo Malafaia/AFP)
O menino Everton Miguel dos Santos ajuda na limpeza da praia Itapuama, em Cabo de Santo Agostinho (PE). Foto Leo Malafaia/AFP)

Uma tecnologia desenvolvida na Universidade Federal de Viçosa (UFV) pode ser a solução para minimizar as consequências do maior desastre ambiental da história do litoral brasileiro, que foi o derramamento de óleo no litoral do Nordeste – de causas ainda desconhecidas. Trata-se da
biodegradação
, ou seja, a desintegração das manchas por micro-organismos, que pode ajudar a eliminar o óleo que se espalhou por mais de dois mil km da costa nordestina.

O método foi criado pelo professor Marcos Rogério Tótola, do
Laboratório de Biotecnologia e Biodiversidade para o Meio Ambiente da UFV,
em parceria com seu ex-orientado de doutorado Edmo Montes Rodrigues, e com o professor Alvaro Vianna Novaes de Carvalho Teixeira, do Departamento de Física. Eles usam a chamada emulsão dupla fertilizada, que teve sua patente depositada em 2016.

Embora não haja como reverter as graves consequências ambientais e socioeconômicas provocadas pelo desastre, é possível, de acordo com o professor, impedir que elas provoquem ainda mais danos.

Segundo explica o professor Marcos Rogério, a tecnologia diz respeito a emulsões duplas compostas por água/óleo/água, que contêm nutrientes inorgânicos, gelatina, óleo vegetal e surfactantes (muito utilizado em produtos de limpeza).


Professor Mário Rogério Tótola, da UFV, criou com colegas método que pode ajudar a resolver desastre ecológico que atingiu estados do Nordeste brasileiro com óleo de petróleo. Foto – UFV-Divulgação

Essa tecnologia, conforme o professor, foi pensada justamente para ser aplicada em águas oceânicas contaminadas por moléculas orgânicas hidrofóbicas (que não se misturam à água), como hidrocarbonetos do petróleo, a mesma substância que afeta o litoral nordestino. 

Trata-se de uma emulsão com gotículas de óleo que carregam dentro delas água fertilizada, para ser pulverizada nas manchas de petróleo sobre a água e rochas contaminadas.

Por ser um material oleoso, as gotículas colam no petróleo e, como o óleo contido nelas é facilmente degradável por micro-organismos, esses vão paulatinamente liberando os nutrientes para usarem os hidrocarbonetos de petróleo na produção de novas células, que por sua vez irão acelerar o processo de degradação.

O professor explica também que, quando acontece um vazamento de óleo no mar, uma parte do petróleo vai para o ar (volatilização) e a outra é degradada devido à exposição à luz (fotodegradação). Mas grande parte das moléculas desse óleo permanece no mar e essa parcela que não se consegue remover tem que ser degradada por micro-organismos.

Tecnologia testada

A tecnologia criada na UFV foi testada na prática. Os pesquisadores estudaram a Ilha da Trindade, localizada a cerca de 1.200 quilômetros a leste de Vitória (ES). Ali e nas águas do entorno, pesquisaram a biodiversidade e o potencial de seus micro-organismos degradarem hidrocarbonetos de petróleo.

“Fizemos isso exatamente pensando numa situação como a que estamos vivenciando no Nordeste; de se ter uma contaminação na ilha e prever a partir daí estratégias que poderiam ser adotadas para minimizar o dano ambiental”, conta o professor Marcos Rogério.

Estudioso da microbiologia do petróleo por quase 20 anos, o professor Marcos Rogério Tótola não tem dúvida em afirmar que a biodegradação é o caminho para a solução do problema no litoral nordestino e que a emulsão desenvolvida no laboratório que ele coordena é a tecnologia mais eficiente, inclusive sob o ponto de vista de impactos para o meio ambiente.

Essa emulsão é feita só com compostos naturais e contém gelatina, coco glicosídeo, surfactante gras – que pode ser usado como aditivo alimentar -, óleo de canola, fontes de fósforo e de potássio e nitrato de amônia como fonte de nitrogênio. Há óleo dentro de água e água dentro de óleo disperso em água. Por isso, é chamada emulsão dupla.

“A elaboração é muito simples”, garante o professor. “É preciso ter apenas agitadores, pulverizadores e um apoio logístico para que a emulsão seja produzida e transportada para os locais contaminados”, acrescenta.

Outro aspecto importante da emulsão, de acordo com o professor, é a capacidade da emulsão de degradar o óleo que se fixou nas rochas como um piche. Imagens de voluntários lavando essas rochas estão correndo o mundo mas, segundo o professor, apesar dos esforços, esse trabalho é inútil.

“Lavar não adianta, porque vai jogar tudo de volta para o mar e contaminar a cadeia trófica [também chamada de cadeia alimentar]. A única opção é promover a biodegradação”, assinala o professor.

Com informações da Assessoria de Comunicação da UFV

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