Calendário do futebol brasileiro é sinônimo de bagunça

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Calendário do futebol brasileiro não é inclusivo

A Copa do Mundo acabou e os torcedores não viam a hora de se reencontrar com seus clubes, desejo que o confuso calendário do futebol brasileiro ajudou a realizar em alto estilo. Por uma incrível razão que não vou conseguir explicar, já teve jogo na segunda-feira, dia 16, pouco mais de 24 horas depois do final do Mundial em Moscou. Sim, dois jogos decisivos pela Copa do Brasil, que definiram vaga nas quartas de final do torneio mais lucrativo do país. Ah, os jogos de ida foram realizados bem antes da Copa e ninguém se lembrava direito dos placares, mas tudo bem.

Os quatro times que entraram em campo na segunda voltaram aos gramados na quinta, dia 19, já pelo Campeonato Brasileiro. A tabela também prevê jogos para eles no domingo, dia 22, na quarta, dia 25, e por aí vai. Um banquete para saciar aquele faminto por futebol brasileiro, não é? Mas será que é mesmo bom para todos?

Desconectado do calendário do futebol europeu, o mais importante do planeta, a programação “planejada” pela CBF coloca seus principais clubes em uma maratona exaustiva, que impede a melhor preparação das equipes e expõe seus melhores jogadores, sempre contratados por equipes estrangeiras no meio das competições. Dificilmente seu clube vai começar e terminar o Brasileirão com os mesmos jogadores.

Para o time que vai bem em 2018, o segundo semestre será exaustivo. Reta final do Campeonato Brasileiro, jogos eliminatórios pela Copa do Brasil e luta por vagas na Libertadores e na Copa Sul-Americana. Claro que o torcedor quer mais é que seu time dispute e ganhe todas as competições, mas o preço que a desorganização do calendário cobra é muito alto. Basta conferir a quantidade de contusões, alguns públicos baixos e a opção nem sempre correta de optar por uma competição apenas.

Um novo desenho, que diminua a participação dos clubes das principais divisões nacionais nos desprestigiados estaduais, por exemplo, ajudaria e muito a trazer qualidade para os jogos, daria mais tempo para treinadores montarem suas equipes e ajudaria os clubes a brigar em mais campeonatos.

Sonho para poucos

Esse cenário que descrevi acima de forma reduzida é o que é vivido basicamente pelos clubes da Série A do Brasil. Cenário de sonho para a esmagadora maioria das agremiações espalhadas pelo país. Se está complicado para quem vive na elite do futebol brasileiro, imagina para os outros.

O desprestígio é tão grande que jogos das Séries B, C e D do Brasileirão continuaram sendo realizados durante a Copa do Mundo, inclusive em dias de partidas importantes do Mundial. Nesse meio tempo foram definidos, por exemplo, os clubes que subiram da quarta para a terceira divisão. Além disso, a lucrativa Copa do Nordeste teve seu campeão levantando taça no meio do Mundial da Rússia.

O caos é evidente e faz com que os clubes menores lutem demais pela sobrevivência, já que estão completamente excluídos do cenário. Nitidamente, não há qualquer planejamento para fortalecê-los, o que resulta em um doloroso efeito dominó, com jogadores contratados por curtos períodos, elencos formados às pressas, desemprego e dívidas.

Caminho sem volta?

Para exemplificar essa situação para o leitor, vou apresentar o caso do Uberlândia neste ano. O clube disputou a primeira divisão do Campeonato Mineiro, pelo qual fez 11 partidas, entre janeiro e março. No final de abril, estreou na Série D do Brasileirão, competição para a qual já havia conseguido a classificação em 2017. Conseguiu, após seis jogos, a vaga na segunda fase (nesse meio tempo, 32 times já tinham ficado pelo caminho no torneio).

Depois disso, o Uberlândia entrou na fase mata-mata e jogou mais quatro partidas, sendo eliminado nas oitavas de final precisamente no dia 24 de junho. No total, foram dez jogos pela Série D e outros 11 pelo Mineiro – 21 jogos oficiais em um período corrido de cinco meses. E o que o calendário reserva para o clube da rica cidade do Triângulo Mineiro no segundo semestre de 2018? Nada.

O planejamento agora vai ser para a segunda divisão estadual de 2019, já que foi rebaixado no Mineiro. Sem competição nacional no ano que vem, vai conviver com a dura realidade de uma divisão inferior no Estado e se equiparar a centenas de clubes que já vivem esse processo. Sem recursos, vai contratar jogadores provavelmente no final deste ano, com contratos de prazo curto e com uma dispensa certa em abril do ano que vem, mesmo que tenha garantido seu retorno à elite mineira – não tem nada previsto para o restante do ano.

Reestruturação urgente

Não seria a hora de dar aos jogadores de todas as divisões a oportunidade de trabalhar o ano inteiro, de permitir que os clubes consigam ter a chance de jogar uma temporada completa, mesmo que regionalmente? Passou da hora de adequar o calendário do futebol brasileiro, dele ser inclusivo. Não dá mais para um clube da Série A jogar mais de 80 partidas em uma temporada e outro entrar em campo menos de 20 vezes.

Fortalecer os clubes menores e dar estrutura para eles se desenvolverem é um caminho para fortalecer o futebol do país como um todo – os efeitos serão sentidos pelos grandes. O que não dá mais é ter, por exemplo, um estadual com 22 jogos (entre 75) com menos de mil pessoas nas arquibancadas, como foi o Mineiro deste ano, um dos que tem a melhor média de público do país. Um pequeno receber um grande uma vez por ano não é garantia de retorno. O Uberlândia, citado acima, recebeu o Atlético em 2018 e teve uma ocupação de 11% de seu estádio. Não paga as contas. Um eventual mata-mata de competição nacional pode ter muito mais apelo.

A discussão sobre o formato é ampla e eu defendo que existam mais divisões nacionais (hoje são quatro) e que os estaduais, sem os grandes e estendidos, funcionem como divisões nacionais menores. Isso daria fôlego para os maiores, calendário para os pequenos e um incentivo para galgar etapas. Do jeito que está é que não pode ficar.

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