Conheça oásis criado por Sebastião Salgado em Aimorés

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Fazenda Bulcão, que no início dos anos 2000 estava completamente degrada, hoje abriga uma floresta com árvores nativas da Mata Atlântica - Foto Weverson Rocio
Fazenda Bulcão, que no início dos anos 2000 estava completamente degrada, hoje abriga uma floresta com árvores nativas da Mata Atlântica - Foto Weverson Rocio
Fotógrafo Sebastião Salgado e sua mulher, Lélia Wanick, reflorestaram 608 hectares da fazenda Bulcão, em Aimorés, no Vale do Rio Doce, com árvores nativas da Mata Atlântica  
Foto tirada por Sebastião Salgado em 2000, ano em que foi iniciado o projeto de recuperação da Mata Atlântica na fazenda Bulcão

Próximo de completar 20 anos, o Instituto Terra, uma organização sem fins lucrativos criada pelo consagrado fotógrafo Sebastião Salgado e por sua mulher, a arquiteta Lélia Wanick, tem bons motivos para celebrar.  Fundada com o objetivo de reflorestar a fazenda Bulcão, na cidade de Aimorés, que estava completamente degradada, a ONG já contabiliza na terra que pertenceu à família do fotógrafo uma floresta com 2 milhões de árvores nativas da Mata Atlântica.

Esse verdadeiro oásis com 608 hectares, o maior projeto de recuperação da Mata Atlântica em termos de área contínua do país, hoje serve de abrigo para 172 espécies de aves (seis delas ameaçadas de extinção), 33 de mamíferos (dois deles em extinção no mundo e três em extinção no Brasil), 15 de anfíbios e outras 15 de répteis. A fazenda é hoje um refúgio para animais que estão no topo da cadeia alimentar, como a jaguatirica, um sinal claro de que o ecossistema está em perfeito equilíbrio.

Foto tirada por Sebastião Salgado em 2013 mostra que área que estava totalmente degradada em 1998, está plenamente recuperado
Foto tirada por Sebastião Salgado em 2013 mostra que área que estava totalmente degradada em 1998, está plenamente recuperado

Plantando esperança

Mais que árvores, entretanto, e talvez seja esse o maior legado do casal Lélia e Sebastião Salgado, o Instituto Terra está plantando esperança na Bacia Hidrográfica do Rio Doce. Enquanto cuidava de reflorestar a Fazenda Bulcão, que no início dos anos 90 tinha apenas 0,3% de sua mata nativa, a ONG, em paralelo, desenvolvia ações de educação com o propósito de ajudar a promover o resgate ambiental de toda a região.

E neste campo, mais um feito do casal Salgado e sua ONG. Hoje, cerca de 7 mil hectares de Mata Atlântica na bacia do Rio Doce, uma das mais degradadas do país, estão em processo de recuperação. A bacia tem uma extensão de 86 mil km2 entre os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo (o que corresponde ao tamanho de Portugal) e abrange 230 municípios, onde vivem aproximadamente 3,5 milhões de pessoas. Com uma rica biodiversidade, tem 98% de sua área inserida no bioma da Mata Atlântica, um dos mais importantes e ameaçados do mundo.

Espécie da fauna de Mata Atlântica ameaçada de extinção, jaguatirica já é identificada na área reflorestada fazenda Bulcão. Foto Leonardo Merçon

Para ajudar a disseminar uma nova consciência ambiental na região, baseada na recuperação e conservação florestal, associados à produção agrícola e melhoria da qualidade de vida no meio rural, o instituto fez parcerias com escolas, com prefeituras municipais, com empresas e com o setor agrícola. Em quase duas décadas de trabalho, foram desenvolvidos mais de 700 projetos educacionais, atingindo um público superior a 70 mil pessoas. Todos esses parceiros, de alguma forma, são multiplicadores do discurso de que é preciso cuidar melhor do meio ambiente.

Papagaio Chauá, outra espécie ameaçada, hoje encontra um refúgio seguro na fazenda que foi reflorestada. Foto Leonardo Merçon

Bom exemplo

Minas Gerais é o Estado que tem o maior remanescente dessa floresta, mas restam apenas 12% desse riquíssimo bioma. A região da bacia do Rio Doce é uma das mais degradadas do Brasil, mas o quadro no município de Aimorés, quando nasceu o Instituto Terra, era ainda pior: havia restado menos de 1% do que um dia foi uma rica floresta. Esse cenário, entretanto, Lélia e Sebastião encararam não como dificuldade, mas como desafio.

“Tão importante quanto o trabalho de replantar a floresta na Fazenda Bulcão é mostrarmos para Minas, para o Brasil e para outros países que é possível replicar este modelo mundo afora”, afirma Isabella Salton, a diretora executiva do Instituto Terra. E é essa a pregação que Sebastião Salgado, que tem o seu trabalho como fotógrafo reconhecido mundialmente, vem fazendo pelos mais variados lugares do planeta.

Como tudo começou

Salgado costuma contar que em 1998 sonhou em reconstruir o paraíso onde nasceu e viveu até por volta dos 15 anos de idade: a fazenda Bulcão, no município de Aimorés. Quando lá viveu, 50% da área de 709 hectares era coberta pela floresta tropical, mas esse percentual foi reduzido a menos de 0,5% no final dos anos 90. Nessa época, o fotógrafo havia feito um trabalho em Ruanda, na África, onde ocorreu um genocídio que resultou na morte de cerca de 800 mil pessoas. “Eu perdi a fé em nossa espécie”, relembrou ele em palestra que fez nos EUA.

Doente e em crise, Salgado foi aconselhado pelo seu médico a parar por um tempo o seu trabalho com fotografia. Como morava com a mulher no exterior, decidiu retornar ao Brasil. Ao chegar na fazenda Bulcão, uma surpresa: “a terra estava tão morta quanto eu”, conta o fotógrafo.

E foi Lélia quem deu a ideia: “você nasceu num paraíso. Vamos reconstruí-lo”.  Não demorou muito e em abril de 1998 foi criado o Instituto Terra para dar início aos trabalhos. A primeira providência, por mais paradoxal que possa parecer, foi transformar a fazenda Bulcão numa Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). O título foi obtido de maneira inédita em outubro de 1988, uma vez que ele estava sendo dado para uma terra completamente degradada. Mas havia o compromisso de que o local seria reflorestado, o que de fato aconteceu.

O começo foi difícil. A diretora executiva Isabella Salton conta que no primeiro ano de plantio, todas as mudas (cedidas pela Vale) morreram. No segundo ano, 80% do que foi plantado não vingou. No terceiro ano a perda foi menor, mas ainda assim muito expressiva. Da quantidade plantada, apenas 50% sobreviveu.

Embora na região, especialmente em Aimorés, houvesse um grande número de pessoas que classificava a ideia de Sebastião e de Lélia como um despropósito, o trabalho não parou e dez anos depois o instituto já contabilizava um milhão de mudas plantadas e uma exuberante floresta com árvores nativas da Mata Atlântica, um refúgio seguro para centenas de espécies da fauna e da flora.

Motivos para celebrar

Quando abril de 2018 chegar, ano em que o Instituto Terra estará completando 20 anos de vida, não faltarão motivos para celebração:

  • Nessas duas décadas, o Instituto Terra produziu mais de 4,5 milhões de mudas de espécies nativas da Mata Atlântica. Hoje, o viveiro do instituto tem capacidade para fornecer 1 milhão de mudas por ano. Uma parte do que é produzido é usado na fazenda Bulcão e a outra é revendida, tornando-se uma fonte de renda para a ONG.
  • O instituto criou um laboratório de sementes, onde pesquisa e organiza informações técnicas sobre todo o processo de produção de mudas florestais. Esse conhecimento é compartilhado, de forma gratuita, por meio do Portal Semear, que é uma iniciativa inédita no Brasil.

Olhos D´Água

  • Além de restabelecer a cobertura vegetal e fazer a recomposição do solo, o instituto teve também a preocupação de recuperar as nascentes de água da fazenda Bulcão. Na área da propriedade foram recuperadas oito nascentes e, a partir dessa experiência, foi criado o programa Olhos D´Água, para ajudar a promover o resgate dos recursos hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Doce.
  • Ao todo, a bacia tem catalogadas 375 mil nascentes e o instituto Terra descobriu que cerca de 350 mil delas precisam de algum trabalho de recuperação. Desde que o programa foi criado, já foram feitas ações de proteção e recuperação em 2.600 nascentes.
Uma das nascentes da fazenda Bulcão que foi recuperada pelo Instituto Terra. Foto Weverson Rocio
  • Como a educação ambiental é um dos braços do Instituto Terra, ele hoje funciona como um centro irradiador de uma nova consciência ambiental. Um dos objetivos da ONG é mostrar que é possível conciliar produção agrícola e qualidade de vida no meio rural com preservação ambiental.
  • São parceiros do instituto nessa empreitada escolas, estudantes, professores, agricultores, líderes comunitários, técnicos, terceiro setor, as comunidades dos municípios da bacia do Rio Doce e governos (municipais, estaduais e federal). As ações educativas do instituto já atingiram mais de 70 mil pessoas da região.
  • Um dos principais projetos de educação do Instituto Terra é o que forma agentes de desenvolvimento rural sustentável. Durante um ano, técnicos agrícolas, agropecuários, ambientais e florestais recém-formados são capacitados em recuperação de áreas degradadas da Mata Atlântica e proteção de nascentes.
  • Os alunos ficam hospedados no próprio instituto e o curso é 100% gratuito. Ministrado pelo Núcleo de Estudos em Restauração Ecossistêmica (NERE), forma 20 técnicos por ano e 60% deles, de acordo com a ONG, permanecem na área do Rio Doce multiplicando conhecimentos. A capacitação existe desde 2005 e já formou 143 técnicos.
Trabalhadores no viveiro do Instituto Terra, que tem capacidade para produzir um milhão de mudas por ano. Foto Lélia Deluiz Wanick Salgado

Essa iniciativa, aliás, deu ao instituto, em 2008, o Prêmio Ford Motor Company de Conservação Ambiental, na categoria Ciência e Formação de Recursos Humanos, pelo envolvimento com a comunidade e, sobretudo, pela proposta responsável de tornar o conhecimento científico acessível a pessoas do campo, que nem sempre têm acesso ao estudo formal.

SOS Mata Atlântica

A Mata Atlântica abrangia uma área equivalente a 1,3 bilhão de km2 e estendia-se, originalmente, por 17 estados do Brasil (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Alagoas, Sergipe, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí).

De acordo com dados da ONG SOS Mata Atlântica, restam pouco mais de 12% dessa riqueza, que é considerada Patrimônio Nacional pela Constituição de 1988 e Reserva da Biosfera pela Unesco.

Apesar de sua importância, esses 12% que sobraram da mata original continuam sendo devastados. De acordo com o último atlas do bioma, que foi divulgado em maio deste ano pela ONG SOS Mata Atlântica, o desmatamento nessa floresta cresceu quase 60% no período de um ano. Foram desmatados entre 2015/2016 mais de 29 mil hectares de florestas, o equivalente a 290 km2.

Ao divulgar o atlas, Márcia Hirota, diretora-executiva da SOS Mata Atlântica, observou que há 10 anos não era registrado no bioma um desmatamento nessas proporções.

Minas Gerais ainda tem 2.637.150 hectares do bioma, 102 mil hectares a mais do que o estado de São Paulo, que tem segunda maior área, com 2.535.854 hectares. Mas Minas é também um dos estados que mais desmata. De acordo com o atlas publicado em maio, o estado que mais desmatou a Mata Atlântica foi a Bahia (12.288 hectares), seguido por Minas (7.410).

Quer ajudar o Instituto Terra a manter e ampliar o seu trabalho? Veja como:

 

O Instituto Terra é uma entidade sem fins lucrativos, sem nenhum vínculo partidário ou religioso. Emprega cerca de 70 pessoas e é o segundo maior empregador do município de Aimorés, atrás apenas da prefeitura municipal.

Para bancar os seus custos, da ordem de R$ 1,5 milhão/ano, a ONG realiza  projetos na área ambiental, vende produtos na sua loja virtual, créditos de carbono e mudas, oferece um sistema de hospedagem para quem quer conhecer o seu trabalho de preservação da Mata Atlântica.

Mas o valor arrecadado não é suficiente para fazer face às despesas e o instituto conta com a colaboração de pessoas físicas, empresas, governos e outras instituições para continuar desenvolvendo seus projetos. “Qualquer valor é muito bem-vindo. Uma pequena contribuição pode fazer uma grande diferença”, afirma Isabella Salton, diretora executiva do instituto.

Há várias possibilidades para quem deseja ajudar a entidade a manter e a ampliar o seu trabalho com a fauna e a flora da Mata Atlântica. Veja algumas delas:

  • Arredonde – se você é cliente do Banco do Brasil, pode arredondar o valor de sua fatura e doar um pequeno valor que varia de R$ 0,01 a R$ 0,99. Exemplo: se uma fatura tem o valor de R$ 51,95, o cliente pode arrendodar para R$ 52,00, ao fazer o pagamento, e doar R$ 0,05 centavos para o instituto. Mais detalhes aqui: https://goo.gl/nnwaqB
  • Cartão OuroCard Origens – Cliente do Banco do Brasil pode solicitar um cartão OuroCard Origens, que é feito de plástico reciclado e ainda vem personalizado com uma foto de Sebastião Salgado (há dez imagens disponíveis para que o cliente possa escolher). A cada cartão encomendado, o Instituto Terra ganha R$ 5.00. Detalhes aqui: https://goo.gl/1HqM2x
  • Dotz – Clientes do programa de fidelização Dotz podem trocar os seus dotz por produtos e doação ao Instituto Terra. Saiba mais: https://goo.gl/tzqTXU
  • O Polen – Se você preferir, você pode ser um polinizador. O Instituto Terra é parceiro do  O Polen, uma plataforma que transforma compras online em doações. E você não paga nenhuma taxa extra por sua compra. A loja é que doa. Para ajudar basta ativar o aplicativo no navegador Chrome do seu computador. Instale o aplicativo:
    http://opolen.com.br/apoiar/institutoiterra
  • Depósito Bancário – Quem quiser fazer uma doação por meio de depósito bancário, tem duas opções: Banco do Brasil ou Caixa Econômica Federal. Há também a possibilidade de doação por meio do cartão de crédito. Mais informações no link: https://goo.gl/0Pnhy6
  • Dados para depósito:
  • Beneficiário: Instituto TerraCNPJ: 02.776.897/0001-75

    Banco do Brasil

    • Agência: 0215-1
    • Conta Corrente: 6329-0

    Caixa Econômica Federal

    • Agência: 0704
    • Conta Corrente: 514-4

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